Investimentos pós-fixados tendem a se beneficiar de ciclos de alta de juros, como ocorre agora. Essas operações são corrigidas por algum indexador que flutua, como a Selic, a taxa básica de juros; o CDI (Certificado de Depósito Interbancário, a taxa de juros cobrada nos empréstimos entre bancos); ou o IPCA, o índice oficial de inflação do País. Especialistas, no entanto, ainda indicam a renda variável para aqueles que querem ter alguma possibilidade de ganhos acima da inflação.
Analistas afirmam que a metade final de 2021 será mais volátil por causa das preocupações com a variante delta do coronavírus, da inflação generalizada e persistente no Brasil, do buraco fiscal exposto pelas disputas em torno dos precatórios, da crise de energia e também dos prejuízos causados ao agronegócio pelas ondas de frio no País.
"Além do período de geadas e da estiagem, que já naturalmente deixa o preço da carne e o do leite mais alto, porque tem menos pasto para o gado, temos também a crise hídrica mais acentuada. Mesmo que o preço das commodities e do petróleo ceda, tem uma inflação mais generalizada", disse o professor de Finanças da FGV-SP Fabio Gallo. Nicolas Borsoi, economista da Nova Futura Investimentos, completa: "E o câmbio não desarmou. Chegou a operar abaixo dos R$ 5, mas depois o dólar voltou a subir. Poderia ser uma fonte de alívio da inflação, mas não aconteceu".
<b>Renda variável</b>
Ainda assim, há otimismo em relação à Bolsa. Especificamente para este mês, Borsoi cita quatro "temas", como ele chama, nos quais o investidor deve prestar atenção. O primeiro é uma carteira com exposição ao mercado acionário americano. Segundo ele, por mais que a variante delta esteja causando preocupação no exterior, não seria o caso de haver uma suspensão da retomada, mas apenas uma desaceleração. Sem contar que, por lá, há muitas empresas de tecnologia que podem não ser afetadas por essa perda de ritmo.
As outras carteiras são ligadas a commodities – produtos básicos, como alimentos, minério de ferro e petróleo, cotados no mercado internacional em dólar -, que desde o começo do ano estão indo bem nas exportações, e as ligadas à reabertura da economia, como empresas do varejo físico e concessionárias de rodovias.
<b>Poupança</b>
A poupança é um dos investimentos com a pior remuneração atualmente. O rendimento é de 70% da Selic (caso a taxa esteja no máximo a 8,5% ao ano) mais a taxa referencial (TR), que está zerada, ou de 0,5% ao mês mais TR, quando a Selic for superior a 8,5%. Por outro lado, a caderneta tem liquidez diária. Ou seja, é possível resgatar o dinheiro a qualquer momento, sem multa.
Se o investidor colocar R$ 1 mil na poupança hoje, daqui a um ano terá rentabilidade líquida de R$ 36,75. Mas a rentabilidade real, que é o valor descontado pela inflação, será de R$ 33,64 negativos. Quem quiser uma alternativa parecida e mais rentável pode tentar o Tesouro Selic ou o CDB com liquidez diária, indicou Bernardo Pascowitch, fundador do buscador de investimentos Yubb. "Qualquer investimento pós-fixado se beneficia do ciclo de alta da Selic, mas, mesmo assim, não tem sido o suficiente para bater a inflação", disse Pascowitch.
<b>Renda fixa</b>
O analista de soluções financeiras da Ativa Investimentos Rodrigo Beresca analisou como alguns dos principais investimentos mais conservadores se comportam no atual cenário.
<b>CDB</b>
Valem a pena papéis pós-fixados no DI, especialmente aqueles que pagam 100% ou mais do CDI, porque a taxa de juros está subindo forte. Lembrando que existem CDBs com liquidez diária e também aqueles com prazos mais rígidos para resgate.
<b>Debêntures</b>
Papéis de dívida emitidos por empresas, sejam elas sólidas e bem ranqueadas em agências internacionais, ou que não são bem ranqueadas. Estas últimas costumam pagar um prêmio maior por causa do risco.
<b>LCI e LCA</b>
A vantagem desses instrumentos (Letras de Crédito Imobiliário e Letras de Crédito do Agronegócio) é a isenção do IR, portanto, há um retorno maior do que aplicando em outro ativo que não tenha essa opção, como é o caso do CDB. A lógica para as letras é a mesma: mais atrativo se for no longo prazo porque, com a previsão de novos aumentos para a Selic nos próximos meses, o investidor terá mais chance de embolsar um ganho real (acima da inflação). As boas opções são as taxas pós-fixadas.
<b>Fundos DI</b>
É uma boa opção porque tendem a seguir o CDI, que acompanha a Selic. Em momentos de alta dos juros, são uma opção interessante. Mas é cobrada uma taxa de administração, o que diminui o ganho final.
<b>Tesouro Direto</b>
Os títulos indicados dessa categoria neste momento são o Tesouro Selic e IPCA + (em caso de este apresentar um prêmio mais elevado).
<b>Fundos imobiliários</b>
As cotas de alguns fundos tendem a sofrer um pouco com o cenário de alta de juros. Mas o investidor pode comprar papéis que investem em empreendimentos e locações sólidas que pagam bons proventos de aluguéis ou papéis atrelados a taxas pós e de inflação. Empreendimentos sólidos são aqueles que não apresentam taxa alta de vacância, que investem em balcões logísticos de empresas como varejistas ou que investem em lajes corporativas em locais bem estabelecidos.
<b>Fundos multimercado</b>
Opção interessante, porque os gestores têm liberdade de investir em diversos ativos. Por exemplo, se ele vê que vai haver uma forte alta da taxa de juros, ele pode alocar os recursos em ativos atrelados a taxas flutuantes. Se o cenário mudar e a taxa cair, ele realoca em prefixados.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>