Aos 67 anos e com oito Olimpíadas no currículo, o técnico da seleção brasileira feminina de vôlei José Roberto Guimarães ainda vibra a cada vitória com o mesmo entusiasmo de quando participou da sua primeira edição dos Jogos, em 1976, em Montreal. Foi assim na semifinal contra a Coreia do Sul, na sexta-feira, que o Brasil ganhou facilmente por 3 sets a 0, com um triplo 25/16, e o treinador espera que seja novamente neste domingo à 1h30 (horário de Brasília) na disputa pelo ouro contra o Estados Unidos.
Ao garantir vaga na final, sob os olhares de Rebeca Andrade, que foi ao ginásio apoiar a seleção, Zé Roberto não resistiu e caiu no choro. Um desavisado poderia imaginar que era a sua primeira decisão. Não é. Ele participou dos Jogos em 1976 (como jogador), 1992, 1996, 2004, 2008, 2012, 2016 e agora em 2021 (como técnico). É o único brasileiro tricampeão olímpico e o primeiro a levar uma seleção de vôlei do País ao lugar mais alto do pódio tanto no masculino como no feminino.
"É uma sensação inigualável, um prazer, uma satisfação de estar representando meu País. Imagino as pessoas falando no Brasil, comentando e torcendo pela seleção. Meu coração está em festa. Estou radiante", disse.
A Olimpíada de Tóquio está sendo especial para Zé Roberto. Independentemente do resultado da final contra os Estados Unidos, ele já garantiu medalha para o Brasil e superou a campanha no Rio, em 2016, quando caiu nas quartas de final.
Aquela doída derrota para a China diante de um Maracanãzinho incrédulo ainda está entalada na garganta do treinador não só porque ele foi alvo de muitas críticas. Mas também porque o treinador fez uma promessa ao neto Felipe à época.
"Vem à cabeça a minha imagem sentado e o Felipe do meu lado, e eu tentando explicar para ele que a gente tinha perdido, mas que íamos treinar para voltar a ganhar. Elas haviam sido melhores naquele momento. Eu não imaginava que teríamos uma outra oportunidade como essa. Parece tão distante, é jogo a jogo, passe a passe, planejamento, tantos atenuantes que acontecem", contou.
O coração, Zé Roberto garante que está preparado para mais uma decisão de fortes emoções. "Antes da viagem aqui para Tóquio, todo mundo passou por uma bateria completa de exames e os resultados mostraram que eu sou um dos melhores da comissão técnica", orgulha-se o treinador, praticante do hipismo. No ano passado, inclusive, ele se sagrou vice-campeão brasileiro de saltos na categoria master – para atletas acima de 40 anos. Nas horas vagas, ele também gosta de jogar tênis.
Essa será a quarta final olímpica de Zé Roberto. Em Barcelona-1992, ele foi campeão com o time masculino. Em Pequim-2008 e Londres-2012 também venceu, com o feminino. "São finais completamente diferentes, cada uma tem a sua história. Se me perguntarem qual é a mais importante, vou dizer que o mais importante é chegar na final", ensina.
Passados cinco anos da frustração no Rio, o treinador está novamente em uma final olímpica, com a chance de ampliar ainda mais a sua história dentro do vôlei mundial. No caminho estão de novo os Estados Unidos, mesmo adversário das decisões de 2008 e 2012. Zé Roberto admite que os EUA estão mais fortes e levam um ligeiro favoritismo. No último confronto entre as duas equipes, inclusive, na final da Liga das Nações, as americanas derrotaram o Brasil e ficaram com o título.
Mas a história mostra que não dá para duvidar da capacidade de Zé Roberto de superar adversidades. E ele confia que o time está preparado para vencer mais uma dessas barreiras no domingo. "Sempre disse que não éramos o melhor time, mas avisei que iríamos brigar e aqui estamos. Temos chance e isso é um alento. O time está com energia."