Documentos da CPI da Covid no Senado indicam um cerco de lobistas aos filhos do presidente Jair Bolsonaro. Uma troca de conversa pelo WhatsApp em poder da comissão mostra que Jair Renan recorreu à ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília. Um outro documento, ao qual o <b>Estadão</b> teve acesso, aponta outro lobista pedindo ajuda ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) para conseguir uma agenda no Ministério da Saúde envolvendo compra de vacinas.
As mensagens que envolvem Jair Renan foram apreendidas pelo Ministério Público Federal do Pará no celular do lobista Marconny Nunes Ribeiro Albernaz de Faria e repassadas à CPI. O telefone foi apreendido em uma investigação do MP, no ano passado. Ao se depararem com mensagens que citavam a empresa Precisa Medicamentos, a Procuradoria da República compartilhou o material com os senadores. As mensagens do lobista com Jair Renan foram reveladas pelo jornal <i>O Globo</i> no dia 15 de agosto e confirmadas pelo <b>Estadão</b>.
O conteúdo inclui também conversas com Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Bolsonaro e mãe de Jair Renan, e a advogada Karina Kufa, que defende o presidente. A CPI já aprovou requerimento para ouvir Karina, mas ainda não marcou a data do depoimento.
Segundo a troca de mensagens, de setembro do ano passado, Jair Renan, em vez de buscar os caminhos oficiais, procurou o lobista para abrir uma produtora de eventos em Brasília. "Bora resolver as questões dos seus contratos! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos à sua disposição para te ajudar", escreveu Faria ao filho do presidente, citando o advogado William de Araújo Falcomer dos Santos. Jair Renan respondeu e citou seu sócio, Allan Lucena. "Show, irmão. Eu vou organizar com Alan a gente se encontrar e organizar tudo", afirmou.
A CPI também identificou o elo entre um lobista e Flávio Bolsonaro. Nesse caso, o objetivo era o de abrir as portas e os cofres do Ministério da Saúde. Em junho, uma funcionária do filho mais velho do presidente encaminhou à cúpula da pasta pedido de um suposto vendedor, que tentava garantir ao governo uma "negociação prioritária" e a "reserva" de lotes da Vaxxinity, uma nova vacina contra o coronavírus de origem privada, dos Estados Unidos, com pesquisas em desenvolvimento.
Flávio confirmou ter repassado o pedido ao ministério, mas negou ter se encontrado com qualquer representante da Vaxxinity. "O parlamentar não fez nada além de encaminhar a mensagem para o foro correto." Não há registros, nas agendas do Ministério da Saúde, de que tenha havido a reunião com a Vaxxinity após o e-mail enviado por Flávio. Um dos focos da CPI é saber se o senador intermediou contatos de vendedores de vacina com o governo.
O Ministério da Saúde disse, em nota, que mantém diálogo com laboratórios que têm registro de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso de imunizantes no Brasil.
A defesa de Karina Kufa criticou a convocação dela na CPI. "O requerimento de convocação da doutora Karina criminaliza o próprio exercício da advocacia", afirmou a defesa. Procurado por meio de seu advogado, Jair Renan não se manifestou.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>