Crise do Maringá Vôlei faz atleta vender seu carro para pagar dívidas

Depois de três meses de salários atrasados, Daniel Rossi decidiu vender o carro para colocar as contas em dia. Ele teve de se desfazer do Gol prata 2010 por um valor abaixo dos R$ 16,8 mil da tabela. O dinheiro foi usado para cobrir as despesas com cartão de crédito, internet e celular, entre outras coisas. Daniel é o líbero do Maringá Vôlei, time dirigido por Ricardinho, ex-levantador da seleção brasileira, e que vive grave crise financeira para disputar a Superliga Masculina.

O último salário de Daniel e de cerca de 30 pessoas, incluindo jogadores, funcionários, comissão técnica e assessoria de imprensa, foi pago no dia 25 de outubro do ano passado. Além de vender o carro, Daniel conta com a ajuda financeira dos pais, Pedro e Maria, e da namorada, Kely. É um dos momentos mais difíceis de seus 16 anos de carreira. "Eu sinto uma dor no coração cada vez que eu passo pela garagem", disse o atleta de 39 anos.

O problema central da crise é o atraso dos repasses do patrocinador Tree Part, holding de inovação digital. A empresa detém a exclusividade para exposição da marca nos uniformes do Maringá. Com o patrocínio, o time passou a se a chamar Denk Maringá Vôlei, referência à Denk Academy, escola de formação profissional da Tree Part. A verba do patrocínio, principal receita do clube, seria destinada para pagamento de salários e despesas para manutenção do clube.

O clube possui outras fontes de receita, mas todas secundárias. A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) repassa o valor de R$ 60 mil para cada time da Superliga, valor dividido em quatro parcelas. As receitas com bilheteria são baixas e cobrem apenas as despesas dos próprios jogos. A diretoria também pede ajuda para empresários locais.

Outra saída foi a criação de uma vaquinha virtual. "O Maringá Vôlei precisa de ajuda para se manter na Superliga 2019/2020 já que se encontra em condições financeiras muito complicadas", disse a página do clube. A intenção é arrecadar R$ 1,8 milhão, valor necessário para manter o time na Superliga. Até o momento, a equipe conseguiu sensibilizar 104 pessoas que doaram R$ 13.660,00. O clube aposta na força da torcida, a maior do torneio nas últimas seis temporadas. A doação mínima é de 25 reais e pode ser feita pela internet.

Para continuar no torneio, a diretoria está negociando a troca de mando de jogo para diminuir as despesas. A partida contra o Sada Cruzeiro, que seria em Maringá (PR), será realizada em Contagem (MG) nesta quinta-feira. O time mineiro cobriu as despesas de hospedagem e alimentação e também vai contribuir com as despesas da viagem para São Paulo, onde será o próximo jogo.

O clube do Paraná já perdeu sete atletas por conta da crise. Restaram apenas 11, entre eles o próprio Ricardinho. Fundador e presidente do clube, o campeão olímpico em Atenas-2004 decidiu retomar a carreira para ajudar o clube. Ele tem 44 anos.

O técnico Anderson Fernandes explica que o número ideal para a disputa do torneio seria de 18 jogadores. "Nosso grande desafio é não deixar que os problemas externos atrapalhem o rendimento. Com todas as dificuldades, ainda estamos na zona de classificação para a próxima fase", disse.

OUTRO LADO – A Tree Part promete regularizar o pagamento de salários no mês de março. "Estamos fazendo uma reestruturação na empresa e, momentaneamente, fizemos a suspensão dos pagamentos. Vamos normalizar os pagamentos a partir de março", explicou Reinaldo Oliveira, advogado da empresa. "Nós não abandonamos o clube. É uma reestruturação interna. A empresa vai voltar a funcionar em breve. É uma questão de honra o cumprimento do contrato", completou.

A intenção da Tree Part é continuar investindo no vôlei de Maringá. "A empresa pede desculpas aos jogadores, ao clube, aos torcedores e à CBV. Em momento algum, a empresa está se afastando de ser uma fomentadora do esporte nacional. Somos patrocinadores exclusivos do clube. Pedimos paciência à diretoria e também aos nossos clientes. Passamos por um processo de reestruturação inteira da empresa", explicou.

O advogado nega que a empresa seja uma pirâmide econômica, esquema de marketing multinível sem lastro real, ou seja, quando o serviço ou produto oferecido ou não existe de fato ou não é a fonte principal dos recursos obtidos pela empresa. "Isso não procede. Se fosse isso, os responsáveis já teriam fugido com o dinheiro", disse o advogado.

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