A venda de carros novos para locadoras cresceu três vezes mais do que para o consumidor pessoa física nos últimos dois anos, aponta levantamento divulgado nesta quinta-feira, 6, pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Foram 520 mil unidades vendidas para empresas de locação em 2019, alta de 44% em relação ao volume de 2017. O mercado para o consumidor comum, por sua vez, teve expansão de 14% na mesma comparação, para 1,675 milhão de unidades.
As locadoras, quando compram veículos, negociam diretamente com as montadoras, sem passar pelas concessionárias. Em razão disso e também por comprarem volumes maiores, e não apenas um carro, conseguem descontos atrativos.
Com a crise econômica, as locadoras obtiveram descontos ainda maiores em comparação ao que estavam acostumadas porque se depararam com montadoras "desesperadas" para vender, uma vez que a demanda do consumidor comum estava em queda.
Também por causa da crise, as locadoras passaram a ter uma demanda mais significativa de motoristas de aplicativo, que, sem conseguir emprego em suas áreas, recorreram ao aluguel do carro para trabalhar em aplicativos e obter alguma renda. Além disso, empresas que contavam com frota própria se desfizeram de seus carros para cortar custos, passando a alugar e resultando em mais demanda para as locadoras.
As empresas de locação viram, então, aumentar a necessidade de renovar a frota com mais frequência. Passaram, com isso, a vender mais no mercado de usados, para se desfazer de seus ativos já depreciados, aproveitando-se também de uma isenção do ICMS para vendas após 12 meses de uso e de um maior apetite do consumidor comum para comprar carros seminovos, uma vez que, com a economia ainda lenta, não tinham recursos nem crédito para se aventurar no mercado de novos.
Todos esses fatores combinados criaram uma conjuntura favorável para que as locadoras comprassem mais carros das montadoras, em meio a preços menores oferecidos pelas fabricantes e em resposta a uma maior demanda por aluguel. Enquanto isso, o consumidor comum, mesmo com o fim da recessão, seguiu com apetite limitado para comprar um carro novo.
<b>Elevação para 24 meses</b>
O presidente Anfavea, Luiz Carlos Moraes, afirmou que não faz sentido aumentar para 24 meses o tempo que as locadoras precisam esperar para revender veículos com isenção do ICMS, como prevê um projeto de lei apoiado pelas concessionárias, que se sentem prejudicadas pela competição com as locadoras.
Moraes ressaltou que a participação das locadoras no mercado de revenda atende a uma demanda dos consumidores e disse que esta disputa entre as empresas de locação e as concessionárias não pode prejudicar o cliente final.
"Não estou defendendo as locadoras. Estou sendo racional. Falam desse tema como se o cliente não existisse. Ele existe", afirmou o executivo. "Isso tem consequências econômicas? Tem. Como resolver isso? Vai prejudicar o consumidor? Aumentar o prazo para 24 meses? Não faz sentido", afirmou o presidente da Anfavea, em coletiva de imprensa.
Moraes, da Anfavea, contudo, ressaltou que boa parte dos clientes das locadoras quer locar carros ainda "novos", pouco utilizados, com baixa quilometragem. O argumento do executivo é que, se a locadora deixa para revender o seu veículo apenas 24 meses depois, para ter direito à isenção, o carro ficaria por mais tempo disponível para aluguel e, portanto, mais desgastado para utilização de quem aluga.
Na visão de Moraes, as concessionárias e as montadoras precisam se adaptar a esse novo momento do setor, que, segundo ele, "veio para ficar".