Em campos distintos na política nacional e paulista, o PSDB e o PT se uniram em apoio à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a operadora de planos de saúde Prevent Senior na Assembleia Legislativa de São Paulo. O deputado Paulo Fiorilo (PT), autor da proposta, reuniu nesta segunda-feira, 27, 40 assinaturas de parlamentar favoráveis – oito a mais do que o mínimo necessário. Na bancada tucana, base do governador João Doria, quatro dos nove integrantes declararam apoio à instalação da comissão.
A operadora paulista já é alvo da CPI da Covid, no Senado, sob suspeita de submeter pacientes a experiências com o "kit covid" – composto por medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença -, sem conhecimento de familiares. Um dossiê elaborado por ex-funcionário da Prevent Senior, entregue à CPI, apontou inclusive atestados de óbitos fraudados de forma a omitir mortes pela doença. O estudo teria sido fraudado, para induzir à ideia de que o tratamento, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, funciona. A empresa nega as acusações e se diz alvo de difamação.
A avaliação reservada entre os deputados estaduais é que, a exemplo da comissão no Senado, a CPI na Alesp tem potencial para desgastar Bolsonaro, adversário tanto de Doria quanto dos petistas. Os dez parlamentares bolsonaristas na casa estão isolados e sem força para barrar a iniciativa.
Com as assinaturas necessárias, a instalação da CPI da Assembleia precisa ainda ser aprovada em plenário por meio de um projeto de resolução para mudar o regimento, já que existem cinco CPIs em andamento, o número máximo previsto.
"Eu vejo clima para a aprovação em plenário. Acredito que a CPI tem apoio na esquerda e na direita, na base do governo paulista e também na oposição", disse ao <b>Estadão</b> o deputado Carlos Pignatari (PSDB), presidente da Assembleia. Ele acrescentou considerar as denúncias contra a operadora de saúde "muito graves".
Pignatari afirmou que determinaria a publicação do pedido de CPI no Diário Oficial de hoje. Segundo ele, o requerimento vai tramitar na Casa com a urgência que o tema exige.
A denúncia levada pelos médicos à CPI do Senado afirma que, no ano passado, após críticas do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta a subnotificações de mortes de pacientes e ao atendimento da Prevent Senior a idosos, a diretoria da operadora "fez um pacto com o gabinete paralelo para livrar a empresa das críticas". O próprio Bolsonaro chegou a fazer postagens citando o suposto estudo da Prevent como comprovação de que o chamado "tratamento precoce" era eficaz.
Apesar de a denúncia citar Bolsonaro, o autor da proposta de CPI na Alesp nega que o presidente seja o foco da comissão estadual. "Não foi o Bolsonaro que uniu os dois lados para essa comissão, mas o crime grave que pode ter sido cometido", afirmou Fiorilo.
Na justificativa registrada no pedido, o deputado do PT afirma que a Prevent Senior tem atendimento no Estado e na cidade de São Paulo e alegou que a empresa teria submetido pacientes a tratamentos experimentais contra covid-19 sem o consentimento deles e sem autorização dos órgãos competentes. "Além disso, existem fortes indícios que a empresa teria fraudado os resultados de um estudo sobre uso da hidroxicloroquina no tratamento da doença, além de omitir mortes de pacientes ao longo desse experimento", diz Fiorilo.
<b>Apoio</b>
Com nove deputados, a bancada do PSDB foi orientada pela liderança do governo a assinar o pedido. "A bancada do PSDB está extremamente sensibilizada com as revelações da CPI do Senado em relação à Prevent Senior. E os parlamentares têm o dever de buscar a verdade sobre as condutas da empresa em São Paulo, onde está o maior número de vítimas da pandemia. Por isso, o apoio à instalação da Comissão", afirmou a deputada Carla Morando (PSDB).
Em mais um gesto ao eleitorado bolsonarista, a deputada Janaína Paschoal (PSL) se disse contra a CPI. "Não vejo motivo para CPI sobre esse tema, na Alesp. Já há uma CPI, acompanhada por todos, abordando a questão e o MP já disse que vai apurar. Nem as CPIs já aprovadas foram instaladas, como as da Dersa e a da isenção fiscal", disse a parlamentar.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>