O real operou hoje descolado de outras moedas de países emergentes, em dia em que a influência do noticiário doméstico acabou ofuscando o exterior positivo. Com os investidores propensos a tomar risco no mercado internacional, o dólar caiu de forma generalizada, chegando a recuar mais de 1% no México, mas aqui o vai-e-vem sobre a situação fiscal do Brasil falou mais alto e a moeda americana acabou tendo novo dia de volatilidade, firmando alta na reta final dos negócios.
Após oscilar entre a mínima de R$ 5,55 e encostar em R$ 5,64, o dólar à vista fechou em alta de 0,53%, cotado em R$ 5,6250. No mercado futuro, o dólar com liquidação em novembro subia 0,57% às 17h, em R$ 5,6295.
O noticiário fiscal dominou as atenções das mesas de câmbio. Primeiro, o dólar foi às máximas do dia com a notícia do portal da revista Veja de que o governo estudava prorrogar o auxílio emergencial até junho de 2021. Pouco depois, o ministro da Economia, Paulo Guedes, negou esta intenção e o dólar caiu para as mínimas. Nos negócios da tarde, a moeda chegou a zerar a queda com a notícia publicada pelo <b>Broadcast</b>, com fonte do governo garantindo que a definição do financiamento do Renda Cidadã só sai mesmo após eleições, mas se não houver fonte de recursos dentro do teto, não haverá programa.
"Com o presidente Bolsonaro interessado em que a Renda Cidadã comece no início de 2021, as preocupações sobre a quebra do teto de gastos não vão diminuir", observa o economista para mercados emergentes da consultoria Capital Economics, William Jackson. Na avaliação do economista, o novo programa social do governo já provocou uma "confusão" no país e a pressão para mais flexibilidade fiscal em Brasília vai persistir, estressando os investidores. Ele espera o dólar acima de R$ 5,00 ao menos até o final de 2021.
Os estrategistas do Citigroup em Nova York ressaltam que essa montanha russa do noticiário fiscal nos últimos dias só contribui para aumentar a incerteza com o Brasil. O reflexo é a piora dos ativos, com o real perdendo força e a curva de juros a termo ficando mais inclinada. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista à rádio Jovem Pan, admitiu que um dos fatores para a perda de valor do real é o "ruído todo que vem do fiscal".