Os juros futuros fecharam em forte alta até os vértices intermediários da curva, em reação ao IPCA-15 de outubro acima da mediana das estimativas. O dado de inflação afetou um mercado já machucado pela mudança no regime fiscal e, na véspera do Copom, o resultado não foi outro senão novas puxadas nas apostas para a Selic na quarta-feira e também para o nível ao fim do ciclo. A expectativa de aumento de 1,75 ponto porcentual é majoritária na curva tendo como aposta alternativa uma alta de 2 pontos, que na segunda-feira já aparecia timidamente nos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI). Diante do novo estresse, o Tesouro fez leilão com lote mínimo de NTN-B para não adicionar volatilidade.
A taxa do DI para janeiro de 2022 fechou em 8,50%, de 8,354% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 em 11,59%, de 11,147%. A do DI para janeiro de 2025 avançou de 11,647% para 11,92% e a do DI para janeiro de 2027, de 11,804% para 11,96%.
"Temos uma tempestade perfeita, composta pela forte deterioração do quadro fiscal e expressiva alta de preços. O BC terá de ter pulso firme, pois a política monetária está sozinha", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, que admite que sua previsão de alta de 1,25 ponto na Selic para o Copom de quarta-feira foi atropelada pelo IPCA-15.
Em vez de arrefecer de 1,14% em setembro para a 1% em outubro, de acordo com o consenso, o índice acelerou a 1,20%, ficando perto do teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (1,25%) e desfazendo ilusões de que o pico da inflação em 12 meses ficara para trás. Em 12 meses, a alta chega a 10,34%. Foi o IPCA-15 mais elevado para outubro desde 1995, com leitura também ruim dos preços de abertura. Os números provocaram nova leva de revisões para cima para a inflação do ano e não se descarta a possibilidade de fechar 2021 em dois dígitos.
A projeção de Selic em dois dígitos já é uma realidade em várias instituições. Entre as mais agressivas, a Asa Investments elevou sua previsão para a taxa terminal a 12%, com alta de 2 pontos no Copom do dia 27 de outubro. "Não é só o fiscal, em paralelo estamos perdendo a inflação em velocidade bem superior ao que imaginávamos. Dado o contexto, entendemos ser difícil o BC não aumentar em 2,00 pontos", diz o economista-chefe da ASA, Gustavo Ribeiro.
Na ótica dos agentes, está claro que o plano de voo do Banco Central mudou desde o último encontro, mas para alguns um aperto da magnitude de 2 pontos, embora cabível, parece improvável para um perfil como o do atual BC. "É difícil imaginar que o Copom vá endossar o que o mercado está pedindo", diz um gestor, para quem a dose de 1 ponto não é um ritmo lento, mas é claramente insuficiente para reconduzir a inflação para as metas, diante do nível muito baixo a que chegou a Selic e da perda da âncora fiscal.
"O Copom fica na escolha entre subir a Selic em 150 pontos, alta que já havia sido absorvida, e 200 pontos, degrau que está na curva de juros hoje. O comunicado pode trazer sinais sobre a meta e o ritmo da alta", afirma José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator.