Os juros futuros terminaram a sessão em baixa, amparada no apetite global pelo risco, por sua vez, induzido pelos dados robustos do payroll americano, que também colocou o dólar em queda generalizada. As preocupações fiscais seguem presentes, mas nesta sexta-feira os receios com o futuro da PEC dos Precatórios tiveram uma trégua, com o noticiário sobre o assunto mais esvaziado. As taxas longas recuaram com mais força ante as demais e a curva perdeu inclinação. Na semana marcada pela ata do Copom hawkish e aprovação tumultuada da PEC dos Precatórios na Câmara, a curva fechou nivelada com taxas nos 12% nos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2023 em diante, com forte desinclinação ante a sexta-feira passada.
A taxa do DI para janeiro de 2023 fechou em 12,04%, de 12,11% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,176% para 12,12%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,09%, de 12,194% no ajuste anterior.
As taxas estiveram em baixa desde cedo, bastante alinhadas ao comportamento do câmbio. A queda perdeu um pouco de força no começo da tarde, mas depois retomou fôlego e as taxas renovaram mínimas quando dólar desceu até a casa dos R$ 5,50. A moeda à vista fechou em R$ 5,5227 (-1,49%). O real junto com o rand sul africano foi destaque entre os emergentes, embalado pelo aumento da confiança na economia dos Estados Unidos após a divulgação do relatório de emprego de outubro. Foram criadas 531 mil vagas, ante expectativa de geração de 400 mil, com dados anteriores sendo ainda revisados para cima.
Para o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepomuceno, o bom humor no exterior até justifica um ajuste nos prêmios esticados na curva, mas vê um certo exagero no ritmo. "É verdade que o mercado botou muito prêmio, mas a curva fechou demais. A inflação não está em patamar confortável e ainda há muita incerteza sobre a PEC", afirma.
Com a queda de nesta sexta-feira, o mercado toma fôlego para enfrentar a agenda da próxima semana, que tem entre os principais pontos justamente a tramitação da PEC. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer votar os destaques e também o texto em segundo turno na terça-feira. Ele minimizou nesta sexta riscos de mudanças "radicais" no texto e avaliou que os partidos da oposição deverão manter seus votos.
Apesar da liberação pelo governo de quase R$ 1 bilhão em emendas para deputados antes da votação dar alguma segurança para os próximos passos, a sequência da tramitação pode ser comprometida por ofensivas jurídicas. A oposição viu manobra de Lira antes da votação final para encaminhamento ao Senado. "O questionamento judicial e a incerteza na votação no Senado seguem no radar, da mesma forma, que a prorrogação do auxílio emergencial financiada por créditos extraordinários fora do teto de gastos", afirmou o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.