Se atendo mais detalhadamente à questão da inflação no resto do mundo e no Brasil, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira, 26, durante evento virtual com empresas do mercado Imobiliário, promovido pelo Secovi-SP, que todos os produtos que estão em falta subiram. Isso de acordo com Campos Neto, evidencia a tese de que a disrupção de oferta para explicar inflação de bens se mostra falha e que a causadora da inflação é a demanda de bens.
"O Brasil nunca teve surto inflacionário importando inflação da forma que é agora. Mas temos atuado e temos comunicado isso de forma transparente", disse o banqueiro central, emendando que o BC entende ser muito importante atuar para evitar a desancoragem de expectativas de inflação.
O presidente do BC contou para os empresários do setor imobiliário reunidos no evento virtual do Secovi que o BC deverá revisar a sua projeção de crescimento do PIB para 2022. Ele ponderou, no entanto, que o BC não vai reduzir a expectativa de crescimento para um nível tão baixo quanto tem apontado a mediana das expectativas do mercado no Boletim Focus.
"As projeções de PIB para 2022 têm caído, mas nós do governo temos números mais favoráveis", disse, alegando que a visão menos pessimista do governo em relação ao desempenho do PIB no ano que vem está associada à grande consolidação fiscal em 2021.
Ainda segundo Campos Neto, o desvio do real ante a alta dos termos de troca no Brasil é destacável, mas salientou que esse evento também ocorreu em outros países. "O aumento do investimento no exterior também afeta um pouco a dinâmica cambial", disse o banqueiro central.
Ele disse também que o BC entendeu que seria importante o Copom se tornar mais proativo já que a taxa de juro estava mais baixa. "O Brasil se antecipou ao processo de alta de juro", disse .
Ao tratar da agenda verde, tema em voga no mundo e intensificado pela COP-26, realizada este mês em Glasgow, na Escócia, Campos Neto disse que ela é importante, mas que causa desequilíbrio de preços no curto prazo.
Sempre alertando que o BC não faz política fiscal, mas que a usa para seus cálculos no dia a dia, o presidente do BC disse "o tema da percepção fiscal permeia o prêmio de risco de longo prazo, mas que vai além".
<b>PEC dos Precatórios</b>
Campos Neto voltou a minimizar o efeito da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios no cenário fiscal. "Fica a sensação de que foi pago preço muito caro para desvio pequeno", disse, acrescentando que a arrecadação de 2021 é surpreendentemente positiva, e pode ter repercussões à frente.
Por fim, emendou que o BC não faz política fiscal, mas usa em suas decisões do dia a dia. "Virando a página dos precatórios, seria interessante a comunicação sobre o arcabouço fiscal", considerou, completando que o avanço da agenda de reformas também seria importante para o crescimento estrutural do País.
A PEC dos Precatórios está em discussão no Senado. Na Câmara, com o apoio do governo, foi aprovada com limitação do pagamento dos precatórios em 2022 e mudança na regra de cálculo do teto de gastos, duas medidas que, na prática, aumentam o espaço para despesas públicas no ano eleitoral e diminuem, segundo especialistas, a credibilidade da âncora fiscal.
<b>Investimentos estrangeiros</b>
Campos Neto também afirmou que o balanço entre a saída de fluxos de investimentos estrangeiros na pandemia de covid-19 e o retorno foi deficitário para a América Latina, com a volta em emergentes concentrada na Ásia.
"Conjunto de dúvidas fiscais e crescimento à frente explicam fluxo", avaliou o presidente do BC, na sua participação em evento do Secovi-SP.