Estadão

Dólar sobe 0,63% e fecha a R$ 5,6708 com Ômicron, Fed e dúvidas sobre PEC

O dólar inicia dezembro em alta no mercado doméstico de câmbio, escorado em dois pilares: o ambiente externo mais desafiador – em meio à perspectiva de redução mais acelerada de estímulos monetários nos EUA e às preocupações com o avanço da variante Ômicron do coronavírus – e os percalços da tramitação da PEC dos Precatórios no Senado.

Após uma manhã de muita volatilidade e troca de sinais, reforçada pela liquidez bastante reduzida, a moeda americana se firmou em alta ao longo da tarde e passou a operar no patamar de R$ 5,66. Já na reta final dos negócios, o dólar superou a linha de R$ 5,67 e correu até a máxima de R$ 5,6718, para em seguida fechar a R$ 5,6708, valorização de 0,63%.

A aceleração do dólar por aqui veio na esteira de uma recuperação da moeda americana no exterior, em meio à deterioração dos ativos globais após a confirmação do primeiro caso da cepa Ômicron nos Estados Unidos, segundo o Centro de Controle de Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). Termômetro do desempenho da moeda americana frente a seis divisas fortes, o índice DXY – que caía mais de 0,30% pela manhã – ganhou força e passou a trabalhar em leve alta, acima do limiar dos 96 mil pontos. Entre as divisas emergentes, o dólar também passou a subir frente ao rand sul africano e diminui muito as perdas em relação ao peso mexicano, principais pares do real.

Segundo o operador Hideaki Iha, da Fair Corretora, esse movimento externo pode ter desencadeado ordens de stop loss (limitação de perdas) no mercado local de câmbio. "O dólar havia recuado para uma faixa entre R$ 5,57 e R$ 5,60. Com essa questão da variante Ômicron e a sinalização de que os juros vão subir nos Estados Unidos, diminuindo a liquidez para os emergentes, voltou a superar R$ 5,65", afirma Iha, destacando que o ambiente interno, de dúvidas em relação à política fiscal e fraqueza do PIB, também limitam o fôlego do real.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, repetiu hoje o tom duro em relação à inflação e ajudou na recuperação do dólar lá fora ao longo da tarde. Powell voltou a dizer que é "apropriado considerar acelerar o tapering" no próximo encontro do comitê de política monetária do BC americano. A aceleração do processo de redução dos estímulos, contudo, não deve trazer rupturas aos mercados, já que está sendo telegrafada "de forma apropriada", disse Powell.

A inflação, que já foi considerada transitória e temporária, agora é vista como "persistente". Com ontem, o presidente do Fed disse que vai usar todos os instrumentos que possui para que "a alta da inflação não fique enraizada".

Dados do relatório ADP mostraram que o setor privado dos EUA criou 534 mil vagas em novembro, acima das expectativas, de 506 mil pontos. Os números de setembro foram levemente revisados para baixo, de 571 mil para 570 mil. Na sexta-feira, sai o relatório de emprego (payroll) nos EUA, principal referência do mercado de trabalho para o Fed.

Ao movimento externo se somou o receio diante de possibilidade de adiamento da votação da PEC dos Precatórios para amanhã(o que acabou se concretizando), em meio ao debate entre senadores sobre limites e prazos para pagamento das dívidas judiciais e vinculação do espaço fiscal a determinadas despesas. Sem a aprovação da PEC, essencial para dar visibilidade ao Orçamento de 2022, teme-se que o governo apele para a decretação de estado de calamidade e uso de créditos extraordinários para bancar o Auxílio Brasil.

Uma ala dos senadores quer que a PEC traga um limite para pagamento de despesas judiciais até 2026, e não mais até 2036, como prevê o texto atual. Além disso, há uma pressão para vincular esse espaço fiscal ao Auxílio Brasil e a despesas previdenciárias. Em resposta, o líder do governo e relator da PEC, Fernando Bezerra (MDB-PE), afirmou que a proposta apresentada, de limitar o pagamento de precatórios até 2026 (e não mais até 2036), pode levar a uma revisão do teto de gastos em 2026.

O diretor da corretora Correparti, Ricardo Gomes da Silva, afirma que o dólar foi acelerando os ganhos ao longo da tarde à medida que cresceram as incertezas em relação "ao teor do texto final da PEC dos Precatórios" que será aprovado no Senado. "O movimento aqui foi potencializado também pelas declarações de Powell, nas quais manifestou preocupações em relação ao futuro da economia global diante da nova realidade que se impõe a partir da disseminação da nova cepa do coronavírus", afirma, em nota, Gomes da Silva, para quem há sinais de que o tapering pode ser encerrado ainda no primeiro trimestre de 2022.

Pela manhã, o Banco Central vendeu US$ 1 bilhão em leilão de linha com compromisso de recompra, com taxa de R$ 5,6168. À tarde, o BC divulgou que o fluxo cambial em novembro (até o dia 26) foi negativo em US$ 4,251 bilhões – fruto de entrada líquida de US$ 2,850 bilhões pelo canal financeiro e saída de US$ 7,101 bilhões via comércio exterior. Dados do Ministério da Economia mostraram que a balança comercial registrou déficit de US$ 1,037 bilhão em novembro. No acumulado do ano, o saldo é positivo em US$ 57,191 bilhões.

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