Juliana Kopczynski*
A cachorrinha Pandora viajava de Pernambuco para Santa Catarina, no compartimento de carga de um avião, e se perdeu em uma conexão em Guarulhos. O pernambucano Reinaldo Júnior, tutor da SRD (sem raça definida), procura por ela há quase um mês. Imagens das câmeras de segurança mostram que Pandora circulou pelo aeroporto antes de desaparecer. Esse caso demonstra o quanto estamos atrasados na questão do transportes de animais no país.
No Brasil, para serem transportados por companhias aéreas, os animais precisam ter atestado de saúde do médico veterinário, estar com as vacinas em dia (principalmente a antirrábica) e livres de miíase, endoparasitas e ectoparasitas.
Hoje a única restrição de viagem tendo em vista uma possível prevenção de acidente é quanto aos braquiocefálicos, que são animais que apresentam o focinho mais curto e, por isso, têm dificuldade de respirar, como as raças pug e shih tzu. O ar mais seco e gelado do compartimento destinado ao transporte de animais e a mudança de pressão podem causar vasoconstrição (retração dos vasos sanguíneos), podendo levar a desmaios, síncopes e, em alguns casos, à parada cardiorrespiratória e consequente morte do animal.
Mesmo com essa regra sendo colocada em algumas companhias aéreas, não existe uma regulamentação clara e objetiva em vigor no Brasil. Só existem mesmo regras internas das companhias, uma vez que os acidentes com animais são constantes.
O ideal seria uma equipe especializada para separar e monitorar os animais nos bagageiros e supervisionar os mesmos durante o voo, assim como acontece conosco, pois os comissários de bordo possuem vários recursos para intervir em caso de intercorrências com passageiros.
Além da presença de um médico veterinário para supervisionar o check-in do animal, procedimento já realizado atualmente, deve haver ainda um auxiliar para supervisionar o pet durante a trajetória, nas escalas e também na chegada ao destino. Outro ponto muito importante é que todos os profissionais envolvidos no processo devem receber treinamento para manejo e transporte de animais.
O caso Pandora e muitos outros poderiam ser evitados caso houvesse os procedimentos sugeridos acima, uma vez que, por se tratar de viagens nas quais os animais ficam em um local escuro, com mudança de pressão e junto com as bagagens, entram em alerta de fuga e, em desespero, chegam a conseguiu sair das caixas de transporte.
Mais do que nunca, devem ser elaboradas leis federais e suas regulamentações para não permitir que seres vivos sejam transportados como bagagens, causando a fuga e a morte de muitos animais e sofrimento aos seus tutores. Esperamos resposta urgente do poder público!
Por hora, nosso mais sincero desejo é que o caso da cadelinha Pandora tenha um final feliz, que a cachorrinha seja localizada e que retorne aos braços de sua família, sendo lembrado como um marco de um novo ciclo no transporte de animais em nosso país!
*Juliana Kopczynski, veterinária e diretora do Departamento de Proteção Animal (DPAN) de Guarulhos