Estadão

Dólar fecha terceiro pregão seguido em baixa e já recua 1,81% na semana

O dólar à vista terminou a sessão desta quinta-feira, 13, em leve baixa, na casa de R$ 5,52, emendando uma sequência de três pregões seguidos de queda, no qual acumulou desvalorização de 2,55%. Operadores afirmam que o enfraquecimento da moeda americana lá fora, a entrada de fluxo de exportadores e o desmonte de posições defensivas no mercado futuro explicam esse tombo do dólar no curto prazo. Não se vislumbra, contudo, uma rodada mais forte de apreciação do real, dados os problemas fiscais domésticos, em meio à pressão de servidões por reajuste salarial, e a possibilidade de nova onda de aversão externa ao risco.

O pano de fundo para esse alívio visto nos últimos dias seria a acomodação do mercado às expectativas de normalização da política monetária dos Estados Unidos, com fim da compra mensal de bônus, primeira alta de juros em março e início da diminuição do balanço patrimonial no fim do ano. Também pesa a favor da moeda brasileira a escalada recente da taxa Selic, que torna mais custoso o carreamento de posições especulativas em dólar.

Na primeira hora de negócios, a moeda até esboçou uma recuperação, alcançando máxima aos R$ 5,5564, mas logo perdeu fôlego, em sintonia com a baixa do índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente à cesta de seis divisas fortes -, na esteira de dados da economia americana que chancelam uma postura não tão incisiva por parte do Federal Reserve, o banco central norte-americano.

O índice de preços ao produtor (PPI) nos EUA em dezembro subiu 0,2%, abaixo do previsto (0,4%). Já os pedidos semanais de seguro desemprego avançaram a 230 mil, acima das expectativas (200 mil). Declarações de dirigentes do BC norte-americano ao longo do dia apenas ratificaram a aposta em alta de juros em março e não tiveram grande impacto na formação de preços.

Dados positivos do setor de serviços doméstico também teriam apoiado o real, ao pintar um quadro menos desolador para a atividade econômica. Segundo o IBGE, o volume de serviços prestados subiu 2,4% em novembro (com ajuste sazonal), acima da mediana do Projeções Broadcast (+0,1%).

Na mínima, registrada no fim da manhã, a moeda quase rompeu a linha de R$ 5,50, ao tocar em R$ 5,5013. Mas voltou a ganhar certo fôlego e passou à tarde operando entre a faixa de R$ 5,51 e R$ 5,52. Com diminuição do ritmo de perdas no fim da sessão, o dólar à vista encerrou em queda de 0,10%, a R$ 5,5295 – menor valor de fechamento desde 17 de novembro. Na semana, a divisa perde 1,81%.

"Com noticiário interno fraco, o dólar acompanhou muito o comportamento do índice DXY no mercado externo", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, ressaltando que as leituras recentes de inflação nos EUA, embora ainda elevadas, vieram dentro das expectativas. "Isso tirou um pouco da necessidade de hedge e fez investidores olharem outras moedas. O dólar também já tinha subido muito em dezembro com as preocupações sobre o impacto da variante Ômicron."

Em relação às divisas emergentes e de exportadores de commodities, a moeda americana teve um comportamento misto, embora tenha apresentado queda firme frente a pares do real, como os pesos mexicano e chileno. O dólar subiu mais de 2% em relação à lira turca e ao rublo – esse prejudicado pelo agravamento das tensões geopolíticas entre Estados Unidos e Rússia, que ameaça invadir a Ucrânia.

Para o operador Hideaki Iha, da Fair Corretora, um dólar na casa de R$ 5,50 não é sustentável, dados os problemas fiscais domésticos, a possibilidade de que o Fed seja mais agressivo e o fim do período sazonal de exportação de soja no primeiro trimestre. "Além de o Fed começar a subir juros, a corrida eleitoral vai esquentar a partir do segundo trimestre. Vejo o dólar para cima de R$ 5,60", diz Iha, ressaltando que, se não fosse o ambiente externo, poderia haver estresse no mercado doméstico "com mais um sinal de perda de prestígio do ministro Paulo Guedes".

Decreto publicado nesta quinta determina que atos relacionados à gestão do Orçamento público tenham aval prévio da Casa Civil, o que, segundo especialistas, mina o poder do ministro da Economia, Paulo Guedes, e "politiza" ainda mais o debate orçamentário. Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o Ministério da Economia minimizou a questão e disse que a medida vai ajudar a ala econômica a "dividir desgaste" provocado por eventuais cortes de recursos.

Guedes, relatam fontes, continua contrário ao reajuste dos servidores públicos. O ministro teria acenado a interlocutores, contudo, com a possibilidade de apoiar a aprovação do Refis para parcelamento de débitos tributários de médias e grandes empresas caso o Senado aprove a reforma do Imposto de Renda, que prevê taxação de lucros e dividendos com uma alíquota de 15%.

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