O apoio à permanência do presidente italiano Sergio Mattarella num segundo mandato cresceu rapidamente neste sábado entre os líderes de partido, após dias de votações fracassadas para encontrar um candidato alternativo e em meio ao risco de que disputas políticas prolongadas corroam a estabilidade da nação e a credibilidade internacional.
O mandato de Mattarella termina em 3 de fevereiro. O presidente, que tem 80 anos, disse repetidamente que não quer outro mandato de sete anos como chefe de Estado. Recentemente, ele até alugou um apartamento em Roma para se preparar para sua mudança do palácio presidencial.
O gabinete do presidente não informou imediatamente se ele estava reconsiderando sua decisão anunciada.
Os apelos para que ele permaneça no cargo vieram durante a última rodada de votação, feita pelos 1.009 legisladores elegíveis e delegados regionais especiais, que foi encerrada sem que qualquer candidato obtivesse o mínimo de 505 votos necessários para a vitória. A próxima votação estava marcada para começar no final da tarde deste sábado.
Entre os que pressionam por Mattarella estão o líder de direita Matteo Salvini e o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que há apenas uma semana renunciou relutantemente a sua própria busca pelo cargo mais alto da Itália, que a Constituição diz que deve representar a unidade nacional.
"Este é um momento de unidade, e devemos sentir isso como um dever", disse Berlusconi, que lidera o partido conservador Forza Italia, em um comunicado. "Mas a unidade hoje só pode encontrada em torno da figura do presidente Sergio Mattarella, de quem sabemos que estamos pedindo um grande sacrifício" pelos interesses superiores do país.
O coro pedindo um "bis" de Mattarella também abrangeu o lado oposto do amplo espectro de partidos na base do governo do primeiro-ministro Mario Draghi. O ministro da Saúde, Roberto Speranza, que dirige um pequeno partido de esquerda, disse a repórteres fora do Parlamento que a reeleição de Mattarella seria crucial para "um contexto de estabilidade para a Itália".
O chefe do populista Movimento 5 Estrelas, o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte também se juntou ao lobby. "Mattarella é o fiador de todos, imparcial, fidedigno", disse.
A TV estatal RAI, sem citar fontes, disse que Draghi entrou em contato, neste sábado, com líderes de partido para encorajar os esforços visando a renovação do mandato de Mattarella.
Até 2013, nenhum presidente havia cumprido um segundo mandato. Então, um impasse político semelhante
entre os membros do Parlamento e delegados regionais em várias rodadas de votação terminaram quando Giorgio Napolitano, um ex-líder comunista, concordou em aceitar um segundo mandato. Napolitano renunciou em 2015, quando tinha quase 90, abrindo caminho para a eleição que fez de Mattarella chefe do Estado.
No primeiro turno de votação deste sábado, centenas de eleitores, seguindo as linhas dos partidos, abstiveram-se de votar porque não havia consenso sobre um candidato. Nessa rodada, Mattarella obteve 387 votos, 51 a mais do que ele tinha recebido na votação de sexta-feira à noite, quando o impulso para um segundo mandato começou a ganhar tração.
A votação deixou clara as profundas rivalidades entre os partidos, incluindo aliados na coalizão de Draghi, que Mattarella pediu para formar há quase um ano para liderar a Itália durante a pandemia e ajudá-la a se recuperar economicamente.
A maioria dos líderes está ansiosa para evitar eleições antecipadas, uma perspectiva que provavelmente
aumentaria se Draghi fosse eleito chefe de Estado, especialmente desde que ele indicou no mês passado seu interesse no cargo.
Um nome apontado por semanas como um forte candidato foi o do senador Pier Ferdinando Casini, cujas várias alianças partidárias nas últimas décadas pareciam colidir com o que é exigido de um chefe de Estado. Neste sábado, ele também disse que Mattarella é necessário para o bem da nação e pediu a seus colegas legisladores que poupassem o país do espetáculo de "mais votações infrutíferas".