Em sessão com volume financeiro (R$ 22,2 bilhões) muito enfraquecido pelo feriado em Nova York e de desempenho francamente negativo nas maiores praças da Europa (Londres -0,39%; Frankfurt -2,07%, Paris -2,04%), o Ibovespa estendeu pelo terceiro dia a série de perdas ao fechar hoje em baixa de 1,02%, aos 111.725,30 pontos, acentuando queda após as 16h, entre mínima de 111.607,59 (-1,13%) e máxima de 113.404,77, saindo de abertura aos 112.880,28 pontos. No mês, passa agora ao negativo, cedendo 0,37% no período – no ano, avança 6,59%. Foi o menor nível de fechamento para o Ibovespa desde 3 de fevereiro, quando encerrou aos 111.695,94 pontos. No intradia, foi ao menor nível desde o dia 8 (110.943,24).
O desempenho de Petrobras (ON +2,70%, PN +2,58%) era o contraponto ao dia negativo para as ações dos grandes bancos, com perdas que chegaram a 2,45% (Itaú PN) no fechamento. A acentuação da queda na B3 no fim da tarde coincidiu com menor fôlego no setor de mineração (Vale ON +0,08%) e siderurgia (CSN ON +0,41%, Usiminas PNA -1,83%, Gerdau PN -1,17%), que ombreava mais cedo com Petrobras para mitigar as perdas do Ibovespa. Com o prosseguimento das tensões entre Rússia e Ucrânia, o petróleo voltou a subir, beneficiando outras ações de energia listadas na B3, como 3R Petroleum (+3,87%) e PetroRio (+3,65%), na ponta do Ibovespa ao lado de Sabesp (+3,54%), logo à frente de Petrobras. No lado oposto, Qualicorp (-8,64%), Positivo (-7,11%) e Americanas ON (-6,61%).
Em Dalian, na China, o minério de ferro teve alta de 4,74% e em Qingdao, de 5,04%, apoiando o desempenho das ações do setor de mineração e siderurgia até o meio da tarde, e o dia também começou de forma positiva nos mercados da Europa, com a expectativa, então, de uma possível cúpula entre Estados Unidos e Rússia, mediada pela França, observa em nota a Nova Futura Investimentos, o que melhorava a "percepção dos investidores em relação aos próximos episódios da questão", mantendo solução diplomática sobre a mesa.
Os desdobramentos ao longo do dia, contudo, não foram tão favoráveis. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, conversou hoje com o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o homólogo francês, Emmanuel Macron, sobre os recentes desdobramentos da crise que envolve seu país e a Rússia. Pelo Twitter, o ucraniano escreveu que teve os contatos "urgentes" após as "declarações feitas na reunião do Conselho de Segurança da Federação Russa". Segundo Zelensky, o Conselho Nacional de Segurança e Defesa de seu país foi convocado.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também teve conversas telefônicas com o presidente da França e o chanceler da Alemanha. Putin informou que irá assinar um decreto reconhecendo a independência das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. A assinatura, segundo o Kremlin, ocorrerá "em um futuro próximo".
Por sua vez, o alto representante da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que caso haja uma anexação pela Rússia de regiões separatistas no leste da Ucrânia, "certamente" sanções serão impostas ao país. Em coletiva de imprensa antes de reunião com os ministros das relações exteriores do bloco, o diplomata disse ainda que "caso haja reconhecimento" da independência das áreas separatistas, colocará "sanções" à mesa para serem discutidas pelos representantes dos estados membros.
"Ajudou a aumentar a tensão dos investidores a afirmação de Moscou de que tropas russas destruíram dois veículos militares ucranianos que atravessaram a fronteira – algo que a Ucrânia negou. Isso fez com que as bolsas europeias fechassem em queda, apesar de dados de atividade acima das expectativas: o PMI (índice de gerentes de compras) composto da zona do euro atingiu 55,8 em fevereiro, maior valor em cinco meses e bem acima da expectativa, de 52,7", diz Paula Zogbi, analista de investimentos da Rico Investimentos.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, condenou a decisão da Rússia de estender o reconhecimento às autoproclamadas "República Popular de Donetsk" e "República Popular de Luhansk". Em comunicado, o líder disse que a ação" prejudica ainda mais a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, corrói os esforços para a resolução do conflito e viola os Acordos de Minsk, dos quais a Rússia é parte".
Em Brasília, o relator do pacote do combustível no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN), rejeitou a inclusão de uma proposta para zerar a cobrança de impostos federais sobre o diesel e o gás de cozinha. Com isso, o projeto continua tratando apenas de mudanças na cobrança do ICMS, imposto arrecadado pelos Estados. O texto está pautado para quarta-feira, 23, no plenário da Casa, mas a votação pode ser adiada para março.
Os planos do Ministério da Economia foram frustrados com a rejeição da proposta para zerar a cobrança de impostos federais sobre o diesel e o gás de cozinha pelo relator. Segundo fontes da pasta, a ideia era introduzir a questão no projeto do Senado via emenda apresentada pela senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), aliada do governo.
Depois de ter os planos frustrados, o Ministério da Economia insistirá para incluir num projeto de lei do Senado a proposta de zerar a cobrança de impostos federais sobre o diesel e o gás de cozinha, sem necessidade de compensação com cortes de despesas ou aumento de outros tributos. De acordo com fontes da pasta, a medida representa uma renúncia de R$ 19,5 bilhões por ano, incluindo a retirada dos impostos para o diesel e o botijão de cozinha de até 13 quilos.
"A preocupação é o fiscal, então, a depender de qual vai ser a decisão sobre a desoneração do combustível, pode impactar a arrecadação fiscal e trazer mais uma pressão negativa para as contas públicas", observa Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora.