Diante da ameaça de invasão por tropas russas e uma guerra total em solo europeu, grupos ultranacionalistas ucranianos decidiram ir para a linha de frente e passar parte de seu "know-how" para a população civil. Em Kiev e outras cidades pelo país, cresce o número de relatos de grupos nacionalistas treinando civis para um eventual conflito com a Rússia.
A Ucrânia viu um aumento do número de grupos ultranacionalistas após a Revolução de Maidan, em 2014, que derrubou o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich, e a posterior invasão da Crimeia pela Rússia. Críticos do movimento político à direita apontam há anos que a atuação desses grupos alimenta a narrativa do Kremlin de que a Ucrânia está tomada por neonazistas.
Um dos principais grupos surgidos dos protestos de 2014, o Setor Direito, foi fotografado no último domingo, 20, realizando treinamentos com civis em Kiev. Homens, mulheres, crianças e idosos podem ser vistos entre as dezenas de pessoas que aprendem a manusear fuzis, lançadores de granada e outros equipamentos de uso militar.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (KIIS) de dezembro de 2021, citada pela agência EFE, 50,2% dos ucranianos disseram que resistiriam em caso de intervenção militar russa em sua cidade ou vila. Um em cada três entrevistados da pesquisa disse que estava pronto para se engajar na resistência armada, e 21,7% disseram estar prontos para participar de ações de resistência civil.
Apesar de Vladimir Putin afirmar que não pretende enviar tropas imediatamente ao território ucraniano, o Conselho Superior russo — órgão do Legislativo equivalente ao Senado — autorizou o deslocamento de militares ao país vizinho. Cercados ao norte, leste e sul por cerca de 190 mil militares, segundo estimativas ocidentais, e com a pressão crescente sobre o país, a Ucrânia tenta se preparar para a invasão como pode.
O que começou como uma troca de acusações, em novembro do ano passado, evoluiu para uma crise internacional com mobilização de tropas e de esforços diplomáticos
O próprio governo ucraniano, que em parte da escalada de tensões tentou minimizar a probabilidade de um conflito, também tem reagido mais duramente: autoridades têm pedido sanções pesadas contra a Rússia imediatamente, reservistas do Exército ucraniano foram convocados e o Parlamento do país aprovou uma lei autorizando os cidadãos a carregar armas de fogo e agir em legítima defesa.
"A adoção desta lei é de pleno interesse do Estado e da sociedade", disse um comunicado assinado pelos autores da lei, acrescentando que ela era necessária em razão "das ameaças e perigos aos cidadãos ucranianos".
No sábado, 19, centenas de civis treinaram com armas de madeira em Kharkiv, a 40 quilômetros da fronteira russa, para se prepararem contra uma possível invasão. Cerca de 150 voluntários aprenderam habilidades de fuzil e técnicas de sobrevivência ao se juntarem a uma das muitas Forças de Defesa Territoriais da Ucrânia, conduzidas por militares aposentados.
Alguns outros grupos vem se preparando para um eventual cenário de conflito a mais tempo. No mês passado, o The Washington Post mostrou relatos de civis ucranianos que se reúnem há três anos, todos os fins de semana, para treinar em florestas e parques nos arredores de Kiev, simulando uma possível invasão em grande escala da Rússia. O cenário que parecia distante, agora pode estar mais próximo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)