Estadão

No Congresso dos EUA, Zelensky cita 11/9 e Martin Luther King ao pedir ajuda

Em discurso no Congresso dos Estados Unidos, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, pediu para que o país e seus aliados façam mais para parar a guerra promovida pela Rússia. Com direito a imagens fortes, citação a Martin Luther King Jr. e ao 11 de setembro, o líder ucraniano pediu por mais ajuda, incluindo sanções a políticos russos, armas e uma zona de exclusão aérea.

"Neste momento, o destino de nosso país está sendo decidido", disse Zelensky nesta quarta-feira após ser aplaudido durante longos minutos por parlamentares americanos. "O destino de nosso povo, onde os ucranianos serão livres, serão capazes de preservar sua democracia. A Rússia atacou não apenas nós, não apenas nossa terra, não apenas nossa cidades, foi uma ofensiva brutal contra nossos valores, valores humanos básicos."

Para criar comoção entre os parlamentares, o ucraniano comparou os ataques russos na Ucrânia ao ataque japonês de Pearl Harbor durante a Segunda Guerra Mundial e aos atentados de 11 de setembro de 2001. Ele também invocou o famoso discurso do reverendo Martin Luther King Jr. citando "Eu tenho um sonho" e imediatamente substituindo por "Eu tenho uma necessidade", ao pontuar seus pedidos por ajuda.

"Eu tenho um sonho, essas palavras são conhecidas por cada um de vocês. Hoje, posso dizer, eu tenho uma necessidade. Preciso proteger nosso céu. Preciso de sua decisão, sua ajuda, o que significa exatamente o mesmo que você sente quando ouve as palavras eu tenho um sonho".

"Criar uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, para salvar as pessoas, é pedir demais?" questionou. "Uma zona humanitária de exclusão aérea, algo que a Rússia não seria capaz de usar para aterrorizar nossas cidades livres".

Tanto os Estados Unidos quanto os demais países da Otan já negaram a possibilidade de criar uma zona de exclusão aérea na Ucrânia, pois isso implicaria na entrada direta da aliança no conflito. Frente a essa negativa dos países ocidentais, Zelensky ofereceu uma alternativa: o envio de mais aviões e armas.

<b>Mais sanções</b>

Zelensky também fez um apelo para novos pacotes de sanções, de preferência toda semana, contra políticos russos. "No momento mais sombrio para nosso país, para toda a Europa, peço que vocês façam mais. Novos pacotes de sanções são necessários, constantemente, todas as semanas até que a máquina militar russa pare. Restrições são necessárias para todos a quem esse regime injusto é baseado".

O ucraniano também pediu para que as empresas americanas deixem o mercado russo, "porque ele está inundado em sangue". "Senhoras e senhores, membros do Congresso, por favor, tomem a liderança, se vocês têm empresas em seus distritos que financiam a máquina militar russa, vocês devem pressionar para que deixem de fazer negócios com a Rússia. Estou pedindo para garantir que os russos não recebam um único centavo que usem para destruir pessoas na Ucrânia."

O presidente então transmitiu um vídeo mostrando a capital Kiev sendo bombardeada, mulheres grávidas sendo socorridas em uma maternidade atingida em Mariupol, além de várias imagens de ucranianos feridos e mortos durante os combates.

Ao finalizar, Zelensky falou em inglês e se dirigiu diretamente ao presidente americano, Joe Biden, para pedir que ele "lidere a paz". "Estou me dirigindo ao presidente Biden: você é o líder da nação, de sua grande nação. Desejo que você seja o líder do mundo. Ser o líder do mundo significa ser o líder da paz".

Já na marca de três semanas em uma guerra cada vez maior, Zelensky está usando os principais órgãos legislativos do mundo como palco para implorar aos líderes aliados que parem os ataques aéreos russos que estão devastando seu país.

Na terça-feira, 15, o ucraniano falou para o Parlamento do Canadá e na semana anterior se dirigiu aos legisladores ingleses. Com ampla experiência em comunicação, Zelensky invocou Shakespeare aos britânicos ao perguntar se "deveria ser ou não ser".

<b>Biden</b>

Joe Biden também deve dar um discurso hoje após a fala emocionada de seu homólogo ucraniano. O americano planeja anunciar US$ 800 milhões (cerca de R$ 4 bilhões) adicionais em assistência de segurança à Ucrânia, de acordo com funcionários da Casa Branca.

Isso elevaria o total anunciado na última semana para US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões). O anúncio inclui dinheiro para armas antiblindagem e defesa aérea, segundo o funcionário, que não estava autorizado a comentar publicamente e falou sob condição de anonimato.

Biden insistiu que não haverá tropas dos EUA em solo na Ucrânia e resistiu aos implacáveis apelos de Zelensky por aviões de guerra. "O conflito direto entre a Otan e a Rússia é a Terceira Guerra Mundial", disse Biden.

Autoridades de defesa dos EUA dizem que ficaram intrigadas com a demanda de Zelensky por mais aviões de guerra. Eles dizem que a Ucrânia não costuma pilotar os aviões que tem agora, enquanto faz bom uso de outras armas que o Ocidente está fornecendo, incluindo mísseis Stinger para derrubar helicópteros e outras aeronaves.

Embora Zelensky e Biden falem quase diariamente por telefone, o presidente ucraniano encontrou um público potencialmente mais receptivo no Congresso.

Esta não será a primeira vez que ele apela diretamente aos membros da Câmara e do Senado, que permaneceram notavelmente unidos em seu apoio à Ucrânia. Quase duas semanas atrás, Zelensky fez um apelo desesperado a cerca de 300 legisladores e funcionários em uma ligação privada que, se eles não pudessem impor uma zona de exclusão aérea, pelo menos enviassem mais aviões.

O Congresso já aprovou US$ 13,6 bilhões (R$ 69 bilhões) em ajuda militar e humanitária para a Ucrânia, e a ajuda de segurança recém-anunciada virá dessa verba, que faz parte de um projeto de lei mais amplo que Biden assinou na terça-feira. Mas os legisladores esperam que mais ajuda seja necessária. (Com agências internacionais).

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