Após uma forte alta nos pregões de segunda e terça-feira, quando atingiu o patamar de R$ 5,15, o dólar emendou na sessão desta sexta-feira, 18, seu terceiro dia seguido de queda e encerrou a semana com desvalorização de 0,76%. No meio da tarde, a moeda chegou até a esboçar um fechamento abaixo do piso psicológico de R$ 5,00, ao descer até a mínima de R$ 4,9933 (-0,81%), mas recuperou parte do fôlego logo em seguida e terminou cotada a R$ 5,0158, em queda de 0,37%.
Em dinâmica similar a observada na quinta, o dólar apresentou comportamento mais instável na primeira etapa de negócios, quando chegou a romper o teto de R$ 5,05 e atingiu máxima a R$ 5,0751.
Com o sinal predominante de alta da moeda norte-americana no exterior, investidores remontavam posições defensivas no mercado doméstico de câmbio. Pela tarde, em meio à recuperação do apetite ao risco, com as Bolsas em NY se firmando em terreno positivo e o Ibovespa renovando máximas, o dólar murchou por aqui e passou o restante do pregão orbitando em R$ 5,00.
Operadores notaram fluxo de recursos estrangeiro na esteira de nova onda de otimismo em torno de acordo para um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, após conversa entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o chinês, Xi Jinping – que, segundo relato da mídia estatal chinesa, teria dito que o conflito no leste europeu "não atende o interesse de ninguém".
Embora o pano de fundo a guerra ainda seja relevante na trajetória do dólar, analistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) afirmam que pesaram mais sobre a formação da taxa de câmbio nesta semana dois fatores.
O primeiro é a perspectiva de sustentação dos preços das commodities em níveis elevados, após o governo chinês acenar com medidas de estímulo à economia, cuja dinâmica parecia ameaçada pelo novo surto do coronavírus. Já o segundo é a taxa real de juros brasileira muito atraente, inferior apenas à da Rússia, e o diferencial de juros interno e externo, que estimula as operações de <i>carry trade</i>.
"O comportamento do dólar está muito ligado aos preços das commodities, que seguem em alta lá fora. A expectativa de mais juros aqui também acaba atraindo fluxo de capital para cá, ainda que de forma especulativa", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Por ora, o início do processo de elevação dos juros nos Estados Unidos, com a alta de 0,25 ponto porcentual da taxa básica anunciada na quarta-feira, e o tom duro do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que elevou as projeções de inflação, não castigam as divisas emergentes, sobretudo de países exportadores de commodities. Por aqui, o Banco Central prometeu, ao menos, mais uma elevação da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75% ao ano.
Para a economista-chefe da Amor Capital, Andrea Damico, o real se beneficiou da retomada do apetite por ativos de risco e moedas emergentes, até esboçando novamente com o rompimento do piso de R$ 5. Esse rali, observa a economia, ocorreu apesar da indefinição sobre o desfecho da guerra e do início de elevação de juros nos EUA, além de novo surto do coronavírus na Ásia.
Andrea Damico ressalta que o investidor estrangeiro continua "agressivo" na bolsa doméstica, com compras diárias "praticamente" na casa de R$ 2 bilhões. Segundo dados da B3, os estrangeiros ingressaram com R$ 1,497 bilhão, levando os aportes acumulados em março para R$ 10,930 bilhões.
"O estrangeiro continua comprando basicamente porque temos uma bolsa muito correlacionada a commodities e diversificada entre setores, como petróleo, mineração, celulose, agrícolas e carnes", diz ela, pontuando que nem todo dinheiro de estrangeiro para compra de ações significa fluxo financeiro novo. "As commodities não estão mais no pico, mas vemos preços ainda para cima depois da guerra".
Em relação ao Federal Reserve, a economista da Armor destaca que o BC americano trouxe uma revisão relevante para o patamar da das taxas de juros neste e nos próximos dois anos, com a mediana para os Fed Funds em 2023 em 2,8% – em patamar, portanto, ligeiramente contracionista. "Mas o fato de não ter vindo uma alta mais forte e de o Fed ter telegrafado bastante esse ajuste fizeram com que o mercado reagisse razoavelmente bem", afirma Damico, que, no caso brasileiro, aposta em encerramento do ciclo de aperto na próxima reunião do Copom, com Selic em 12,25%.
No exterior, o índice DXY – que mede o dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – operou em alta durante todo o dia e, quando o mercado de câmbio doméstico fechou, trabalhava na casa dos 98,200 pontos. Em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, a moeda americana tinha comportamento misto. Quem mais apanhava era o rublo (perda superior a 3%) e as moedas do leste europeu, como o florim húngaro e o zloty polonês. Na liderança, figuravam o peso mexicano e o real.
Dirigentes do BC norte-americano falaram grosso nesta sexta. Pela manhã, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, que destoou ao votar por uma alta inicial dos juros em 0,50 ponto, disse que a "combinação de forte desempenho econômico real e inflação inesperadamente baixa significa que a taxa de juros está atualmente muito baixa". O presidente de Richmond, Thomas Barkin, afirmou que é hora de normalizar as taxas e que, se necessário, o BC americano pode optar por uma alta de 0,50 ponto porcentual em seu próximo encontro.