Após a Polícia Federal deflagrar uma operação para apurar a vacinação irregular de empresários do setor transportes contra a covid-19, o ministro da Economia, Paulo Guedes, cancelou sua participação nesta sexta-feira, 26, em seminário promovido pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT).
Entre os vacinados estava o ex-senador Clésio Andrade, ex-presidente da CNT. "Estou com 69 anos, minha vacinação (pelo SUS) seria na semana que vem, eu nem precisava, mas tomei. Fui convidado, foi gratuito para mim", disse Andrade à revista <i>Piauí</i>.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, Andrade negou ter sido vacinado pelo grupo. "Desconheço. Estou em quarentena aqui no Sul de Minas. Tive covid", afirmou.
Segundo apurou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o ministro manifestou a auxiliares indignação com o episódio da vacinação ilegal e decidiu cancelar sua participação até que a entidade preste esclarecimentos. Nenhum representante do Ministério da Economia deve participar do evento.
Lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, exige que todas as doses de vacina adquiridas pelo setor privado sejam doadas ao SUS até que os grupos prioritários estejam imunizados. Vencida essa etapa, as empresas até poderão ficar com parte dos lotes adquiridos, mas ainda assim precisarão doar 50% da compra ao SUS.
Na quinta-feira, Guedes defendeu, em audiência no Senado, a concessão de isenções tributárias a empresários como incentivo para que façam doações ao SUS, mas sugeriu que o setor privado possa adquirir imunizantes para uso próprio.
Mais tarde, no Ministério da Economia, Guedes ressaltou que essa permissão depende de uma mudança na lei. "Eles vão conversar, eles vão acertar com o presidente da Câmara. É um problema de legislação, é lei", afirmou, após se reunir com os empresários Luciano Hang, dona da varejista Havan, e Carlos Wizard, da holding Sforza.
Hang e Wizard anunciaram a intenção de doar 10 milhões de doses de imunizantes contra covid-19. Por trás do gesto, no entanto, está o desejo dos empresários de poder comprar imunizantes para aplicar em seus funcionários, sem seguir a ordem de priorização estipulada no Plano Nacional de Imunização (PNI).