ilho de um soldado norte-americano que permaneceu na Alemanha após a guerra – e de uma garçonete alemã -, Bruce Willis nasceu no país devastado. Como as condições eram difíceis, a família migrou para os EUA. Foram morar num distrito de Nova Jersey, Penns Grove. Criado em meio à comunidade italiana da cidade, Bruce logo descobriu sua vocação. Era um piadista nato. Queria ser ator, mas tinha um empecilho, era gago. Certa vez, ao subir no palco, a gagueira parou imediatamente. Ele descobriu que, com textos decorados, podia controlá-la. Bruce Willis virou astro, um dos mais bem pagos de Hollywood. Aos 67 anos, a família anunciou nesta quarta, 30, que ele está encerrando a carreira.
Foi diagnosticado com afasia, um distúrbio de linguagem ocorrido por lesão cerebral e que afeta a comunicação. Um fim complicado para alguém, como ele, que soube construir sua persona irônica por meio justamente da linguagem que agora lhe falta. O próprio Bruce disse que aprendeu muito no set de O Veredito, de Sidney Lumet, de 1982, observando a desenvoltura de Paul Newman frente às câmeras. Três anos mais tarde, teve a grande chance na série Moonlighting/A Gata e o Rato, contracenando com Cybill Shepherd. Os produtores queriam um nome masculino de peso para atuar com ela. Aos olhos da indústria, Bruce era ninguém, mas revelou-se divertido, charmoso, mais do que isso, espirituoso.
Um cínico – a modelo e o detetive permaneceram no ar por quatro anos. Brigavam no set como cão e gato – gata -, os roteiristas passaram a usar as desavenças de ambos para nutrir as tramas. A sorte terminou dando uma mãozinha. Em 1988, Cybill engravidou e abriu uma brecha nas gravações. Bruce aproveitou para fazer um filme de ação para o qual fora chamado. O diretor John McTIernan queria um novo tipo de herói – o tira John McClane, o homem certo no lugar errado. Em Duro de Matar, McClane faz o policial de Nova York que viaja a Los Angeles ao encontro da mulher, que trabalha numa empresa multinacional. Quando ele chega, o prédio – uma torre de cristal – foi ocupado por um bando de terroristas.
Contra todas as probabilidades – é o primeiro a duvidar de suas habilidades -, McClane dá conta do recado. O público adorou a mistura de ação e humor, surgiram Duro de Matar 2, 3, 4, 5 – Um Bom Dia para Morrer. Transformado em astro, Willis alavancou a carreira da mulher, a atriz Demi Moore. Foram, a seu tempo, o casal 20 da indústria, como Elizabeth Taylor e Richard Burton já haviam sido e Angelina Jolie e Brad Pitt seriam depois. Bruce diversificou a carreira, fez filmes autorais com diretores de prestígio na indústria – Luc Besson, Quentin Tarantino, M. Night Shyamalan. Relembrando – O Quinto Elemento, Pulp Fiction/Tempo de Violência, O Sexto Sentido, Corpo Fechado e Vidro. Um de seus melhores papéis foi num filme pequeno que talvez valha resgatar nesse momento particular.
Em Código para o Inferno, de Harold Becker, de 1998, Bruce faz o agente do FBI que investiga o desaparecimento de garoto autista de 9 anos. O menino decifrou por acaso um código militar, e na sequência seus pais foram assassinados pelo cruel diretor do burô, interpretado por Alec Baldwin. Bruce fará de tudo para salvar o pequeno herói. Não se falam, nem a linguagem dos sinais. É um filme de olhares intensos e gestos viscerais. Privado da palavra, Bruce talvez nunca volte a atuar. Era uma metralha disparando piadas, mas, pelo menos uma vez, esse homem foi grande exercendo o poder do silêncio.