Estadão

Brasileiros vencem barreiras para ajudar ucranianos

Projetos brasileiros apostam no trabalho in loco para ajudar refugiados ucranianos. Com a crise migratória desencadeada pela guerra, mais de 4 milhões de ucranianos já deixaram o país e 6,5 milhões se deslocaram internamente, segundo a ONU.

Um dos projetos brasileiros destinados a amenizar o problema desembarca hoje com oito brasileiros, coordenado pela VVolunteer – plataforma social focada em voluntariado, ajuda humanitária e educação social. O grupo vai oferecer orientação legal a instituições e integrantes da sociedade civil e suporte psicológico aos que deixaram seu país.

A missão, que tem duração de 10 dias, será iniciada em Cracóvia e deve seguir para Przemysl, na região sudeste do país, com a possibilidade de passar também pelo vilarejo de Medyka. Após a conclusão do trabalho, uma parte da equipe seguirá para a República Checa.

"Nosso trabalho é sempre orientado pelas necessidades levantadas e trazidas do campo. Não conseguimos contemplar todas, mas analisamos as possibilidades e escolhemos aquelas em que podemos ajudar", explica Mariana Serra, CEO da VV e líder da missão. "Já tínhamos um histórico de atuação em zonas de conflitos e crises humanitárias, como no caso do furacão no Haiti, do terremoto no Nepal e da guerra na Síria", acrescenta.

"As organizações que atuam na fronteira não estão dando conta de absorver tudo. Instituições que costumavam atender moradores de rua, por exemplo, agora cuidam de refugiados", diz. "Ao mesmo tempo, recebemos pedidos de pessoas que estão, por exemplo, abrigando famílias de sete pessoas e não sabem bem o que fazer com elas", diz Mariana.

<b>Comida</b>

Também orientado por demandas locais, o movimento União BR opera enviando alimentos e insumos para o interior da Ucrânia. O grupo atuou em crises de incêndio no Pantanal e de falta de oxigênio nos hospitais do Amazonas, ambas em 2021.

No início de março, o movimento se uniu às empresas Simple Nutri, LATAM Airlines e Luna Express para enviar, via avião da FAB, 400 mil suprimentos, entre alimentos, medicamentos e purificadores de água. Foi estruturado um centro de distribuição de alimentos e remédios na Romênia. Diariamente, suprimentos do local são levados para o interior da Ucrânia. Em 13 dias de operação, já foram distribuídos 130 mil refeições e 60 mil insumos.

A logística da campanha foi o principal desafio, conta uma das fundadoras da organização, Tatiana Monteiro de Barros, que conseguiu montar a base da operação na fazenda de uma amiga na Romênia. "Precisamos ter muita segurança na ponta da entrega, é muita responsabilidade gerenciar recursos de doadores", afirma.

Os itens enviados e distribuídos são escolhidos com ajuda da Cruz Vermelha, que determina os suprimentos mais urgentes. Entre eles, estão bisturis, gazes e itens de primeiros socorros. A alimentação fica por conta da Simple Nutri, empresa especializada na produção de alimentos desidratados, ideais para cenários como o da guerra. "Conseguimos transportar e estocar quatro vezes mais comida no mesmo espaço: uma caixa nossa tem 12 sacos de 1kg, suficientes para alimentar uma família de cinco pessoas por um mês", explica o fundador e CEO da Simple Nutri, Rafael Romano.

<b>Retirada</b>

Outra organização brasileira que tem atuação direta na Ucrânia é a Frente BrazUcra, cujo foco inicial era o resgate de brasileiros. Com um núcleo formado por oito voluntários e ajudas externas esporádicas, o grupo já tirou mais de 120 pessoas do país.

"Eu estava na minha casa, na Polônia, quando a guerra estourou. No dia seguinte, vi notícias sobre jogadores brasileiros que tentavam deixar o país e pensei que estava tão perto, que poderia ajudar", conta a voluntária Mary de Jesus, uma das líderes do grupo. A Frente passou a executar resgates na fronteira da Ucrânia, usando carros dos voluntários.

Na coordenação remota, Mary opera a logística, mapeando pessoas que precisam de ajuda, voluntários e rotas de fuga acessíveis para ambos. Com o tempo, a Frente passou a resgatar também ucranianos e pessoas de outras nacionalidades, como uma família de nigerianos.

O clima adverso derruba tendas próximas das fronteiras que dão suporte para os voluntários do grupo. "Outro desafio é levar suprimentos táticos e equipamentos que não conseguimos transportar num carro civil normal, porque são produtos destinados a Exércitos, embora úteis para civis", explica.

A burocracia para comprar remédios, muitos dos quais têm exigência de receita, é outro entrave enfrentado pelos voluntários. Há também os problemas técnicos, como pneus furados, falta de sinal de internet e de segurança.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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