A distribuição de pão com fermento durante a Páscoa Judaica abriu uma nova crise política em Israel. Um ano após assumir o poder, a coalizão do primeiro-ministro, Naftali Bennett, perdeu a maioria parlamentar nesta quarta-feira, 6, após a saída surpreendente de Idit Silman, deputada conservadora e profundamente religiosa.
No ano passado, Bennett havia conseguido montar a duras penas uma maioria de 61 deputados – de um total de 120. Após quatro eleições inconclusivas em dois anos, ele apeou da cadeira o então premiê Binyamin Netanyahu, que governava Israel de maneira ininterrupta desde 2009, um reinado que lhe rendeu o apelido de "Rei Bibi".
<b>Crise</b>
A razão da saída de Silman, pelo menos publicamente, foi um confronto com o ministro da Saúde, Nitzan Horowitz. No início da semana, ele seguiu uma decisão da Suprema Corte e permitiu que os hospitais israelenses distribuíssem pão fermentado durante a Páscoa Judaica, em vez do pão ázimo, como manda a tradição.
Foi a gota d água para Silman, deputada do partido Yamina, de Bennett, que mistura conservadores seculares e religiosos. "Eu tentei o caminho da unidade. Trabalhei muito por esta coalizão. Infelizmente, não posso concordar em prejudicar a identidade judaica de Israel", afirmou Silman.
Analistas políticos, no entanto, questionam se este foi o motivo real e destacam as tensões internas provocadas por divergências entre os diversos partidos que formam a coalizão de governo – um balaio de gatos que mistura judeus seculares, esquerdistas, centro-direita e árabes.
<b>Golpe sério</b>
A saída de Silman empata o jogo no Parlamento – 60 a 60 -, razão suficiente para comemoração do ex-premiê, agora líder da oposição. "Idit, você acaba de demonstrar que o que guia seu comportamento é a identidade judaica de Israel, a terra de Israel, e a recebo de novo no campo nacionalista", afirmou Netanyahu.
Analistas afirmam que Bennett sofreu um golpe, mas pode sobreviver. "Se não houver novos desertores, a queda do governo não está garantida e exigirá manobras políticas complicadas", disse Anshel Pfeffer. Sem maioria, o governo é incapaz de aprovar leis sem o apoio da oposição. Agora, é possível que Netanyahu tente dissolver o Parlamento com o apoio de Silman, que poderia concorrer pelo Likud, partido do ex-premiê, na próxima eleição.
<b>Dissolução</b>
Analistas, no entanto, dizem que os deputados opositores talvez não tenham pressa em apoiar uma dissolução do governo por medo de perder seus mandatos. No momento, o Parlamento de Israel está em recesso e o orçamento, que precisa ser aprovado pela maioria para evitar a dissolução, já recebeu a votação positiva dos deputados.
Netanyahu não esconde de ninguém que pretende voltar ao cargo de primeiro-ministro, apesar de vários escândalos de corrupção. O caso 1000 envolve alegações de que sua família recebia presentes ilegais, incluindo champanhe, joias e charutos em troca de favores políticos para bilionários.
Os presentes vieram de Arnon Milchan, um produtor de Hollywood, e do empresário australiano James Packer. No caso 2000, Netanyahu foi acusado de trabalhar com Arnon Mozes, dono do <i>Yedioth Ahronoth</i>, jornal mais vendido de Israel, para limitar a circulação do jornal rival em troca de uma cobertura mais positiva.
As acusações mais sérias estão contidas no Caso 4000, em que ele é acusado de dar concessões regulatórias a Shaul Elovitch, acionista controlador da empresa de telecomunicações Bezeq, em troca de cobertura favorável de seu site de notícias Walla. Netanyahu nega todas as acusações.
<b>Unidade</b>
Ontem, o ex-premiê pediu a outros deputados de direita do governo que se unam a ele e os partidos religiosos que o apoiam. "Vocês serão recebidos com os braços abertos e todas as honras", declarou Netanyahu.
A crise política também ocorre em um momento de tensão em Israel, que sofreu três atentados nas últimas duas semanas, dois vinculados ao grupo extremista Estado Islâmico.
O aumento da violência levou o governo de Israel a intensificar as operações na Cisjordânia, território palestino ocupado, e aumentou o temor de incidentes durante o Ramadã, mês de jejum e oração dos muçulmanos, quando normalmente acontecem grandes concentrações de fiéis.
<b>Divisão de governo</b>
A coalizão atual foi formada com o único propósito de depor Netanyahu. Segundo o acordo, o Bennett dividiria o cargo com Yair Lapid, que nos primeiros dois anos ocuparia a chancelaria. Lapid é inimigo declarado de Netanyahu e líder do partido Yesh Atid, de centro, uma dissidência do Azul e Branco, de Benny Gantz. (COM AGÊNCIAS INTERNCIONAIS).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>