O Ibovespa iniciou o pregão com perda em torno de 3%, chegando a operar na mínima aos 77.848,30 pontos, se alinhando ao mau humor externo desta segunda-feira, 4, e ainda se ajustando às perdas registras internacionalmente na sexta-feira. Isso porque no dia 1º de maio a B3 ficou fechada em razão da celebração do Dia do Trabalho. Depois de fechar abril com a melhor alta para o período, de 10,25% desde 2009 (15,55%), o dia é de recuo praticamente generalizado, com apenas quatro ações subindo de um total de 73, às 11h13. O Ibovespa caía 2,78%, aos 78.264,68 pontos.
Em Nova York, a queda era menos intensa, entre 0,40% (S&P 500) e 0,77% (Dow Jones), com até o Nasdaq subindo 0,39%, após a mudança de sinal para alta nas cotações do petróleo tanto no mercado americano como no londrino. Vários líderes mundiais estão anunciando, conjuntamente, estímulos para combater os efeitos recessivos do novo coronavírus que pressionam a demanda pelo óleo e por outros produtos no globo.
O diretor-geral da Organização Geral da Saúde, Tedros Adhanom, por exemplo, afirmou que várias vacinas contra a pandemia estão sendo testadas em humanos. Sobre o assunto, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que quando o medicamento estiver pronto, o acesso terá que ser "para todos". Já o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, disse que a resposta ao coronavírus requer cooperação global e que o país doará US$ 834 milhões para o desenvolvimento da vacina para combate à doença.
A cautela externa e interna, sobretudo por conta de preocupações em torno da política do País, está no foco das atenções dos investidores. Externamente, pesa sobre os ativos a afirmação do presidente dos EUA, Donald Trump, de que não reduzirá mais as tarifas de produtos comercializados com a China, mesmo após os acordos firmados antes da pandemia do novo coronavírus.
"A situação na sexta-feira já foi negativa lá fora e, no fim de semana, também tivemos notícias ruins. Não tem como essa decisão do Trump não influenciar os negócios por aqui", diz o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Latus. Além dessa questão comercial, o governo norte-americano também responsabilizou a China pela Covid-19.
O clima nebuloso no político doméstico também preocupa, principalmente após as declarações do presidente Jair Bolsonaro durante evento antidemocrático promovido por apoiadores do mandatário. "Dia bem negativo não só para a Bolsa, mas também para o dólar sobe a R$ 5,58", diz Laatus.
Contrariando a recomendação de órgãos de saúde, Bolsonaro participou ontem de atos em Brasília, causando aglomerações, resultando ainda em violência com a imprensa, inclusive dois profissionais do Grupo Estado. O mandatário usou palavras de ordem contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em publicação online, o presidente afirmou que não irá mais admitir interferência em seu governo. A declaração é dada depois de decisões do STF que contrariaram Bolsonaro, como a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal.
Em meio a esse cenário, Luiz Roberto Monteiro, operador de mesa institucional da Renascença, ressalta que nem mesmo a aprovação, no Senado, no sábado, do socorro a Estados e municípios, de R$ 60 bilhões, impede a queda na B3. "Vamos ver se passará na Câmara agora e se não será modificado texto", estima.
Ainda que a situação na política brasileira enseje bastante cautela, o estrategista do Grupo Laatus pondera que ainda é cedo para especular uma eventual saída do presidente do seu cargo. "É um caso preocupante, mas não a ponto de se falar em impeachment", afirma, ponderando, no entanto, que o assunto pode ganhar escopo caso venham à tona denúncias do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que pesem contra o mandatário. "Só se vier algo muito forte", citando que, o mercado também espera por uma declaração oficial das forças armadas, após o presidente afirmar no fim de semana durante os manifestos que a categoria "está com o povo". Entretanto, fontes da categorias ouvida pelo Estado disseram o contrário.
Apesar da alta do petróleo, as ações da Petrobras cediam na faixa de 3, enquanto Vale perdia 1,92%, às 11h28. As maiores variações negativas eram de Embraer (-9,48%) e das aéreas Azul (-10,40%) e Gol (-11,90%), após está ultima informar perdas no primeiro trimestre. No período, a Gol teve prejuízo líquido de R$ 2,261 bilhões ante um lucro líquido de R$ 35,2 milhões em igual período de 2019, ambos no critério antes da participação minoritária da Smiles, afetados pela pandemia do novo coronavírus.