O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, não é mais o coordenador da pré-campanha de João Doria para a Presidência da República. Após dar declarações contrárias à pré-candidatura do ex-governador paulista, ele foi substituído por Marco Vinholi, que é o dirigente do partido em São Paulo. Pelas redes sociais, Araújo, que nunca exerceu de fato um papel de liderança no projeto de Doria, ironizou a troca e se mostrou aliviado: "Ufa", disse.
A candidatura do ex-governador enfrenta resistência dentro da sigla, apesar de a maioria dos filiados tê-lo escolhido como pré-candidato. Até mesmo o segundo colocado no processo de escolha interna, o também ex-governador Eduardo Leite (RS), não ratifica a decisão obtida com as prévias e ainda se declara como opção no partido. "Estou na pista", afirmou, durante painel na Brazil Conference no último dia 10.
Segundo a equipe de Doria, a decisão foi motivada por manifestações de Araújo que "relativizavam" o papel do tucano paulista na disputa, postura considerada pelo ex-governador como "pouco agregadora".
Em evento recente do partido, por exemplo, Araújo afirmou que a aliança entre as legendas que articulam uma candidatura única da chamada "terceira via" é preponderante, ou seja, vale mais do que o resultado das prévias tucanas, em novembro do ano passado. Os partidos PSDB, MDB, União Brasil e Cidadania prometem anunciar um acordo no dia 18 de maio.
"Estou deixando claro que o PSDB está contido no acordo de uma aliança nacional. João Doria é o candidato do PSDB e está contido neste acordo, mas não seremos candidatos de nós mesmos. O PSDB não vai às ruas este ano com um candidato de si próprio", disse Araújo na ocasião.
<b>CENTRO</b>
Há movimentações dentro e fora do PSDB para que Leite participe de um chapa presidencial, possivelmente como vice da senadora Simone Tebet (MDB), que é vista atualmente como o nome com mais condições para unir os partidos que dizem compor o centro democrático. Leite já sinalizou que aceitaria assumir essa posição.
Nas conversas entre a cúpula dos três partidos há consenso que o nome de Doria hoje está fragilizado e isolado dentro do próprio PSDB, que não está disposto a abrir o cofre para bancar a campanha presidencial do ex-governador. Com o racha explícito, o repasse de recursos fica ainda mais incerto, o que causa insegurança na pré-campanha. Já foram liberados cerca de R$ 4 milhões.
O resultado obtido até aqui por Doria nas pesquisas também não ajuda. Segundo o mais recente levantamento do Ipespe, o tucano soma 3% das intenções de voto. Além disso, 57% dos entrevistados disseram que não votariam no tucano de jeito nenhum, rejeição que só não é superior à do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
<b>ESTRATÉGIA</b>
Em movimento para fortalecer sua posição, Doria ensaiou uma "desistência" da disputa no fim do mês passado, o que acentuou a crise interna do PSDB e fez com que Bruno Araújo lançasse uma carta confirmando-o como pré-candidato. Um dia depois, porém, o próprio Araújo disse que "os fatos valem mais que cartas", minimizando a simbologia do documento.
Ontem, o presidente do PSDB afirmou que "nunca fez questão de exercer" o comando da campanha. "Ele (Doria) sabe as circunstâncias em que e por que aceitei à época. Aliás, objetivo cumprido", escreveu.
Segundo aliados de Araújo, a justificativa para ter aceitado assumir a coordenação da pré-campanha foi um pedido pessoal de Garcia feito no ano passado. O temor era que Doria decidisse se manter no cargo, como ameaçou fazer, o que impediria que seu vice assumisse o posto e se candidatasse à reeleição em outubro.
Vinholi é um dos principais aliados de Doria desde sua primeira eleição, para prefeito da capital, em 2016.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>