Percepção renovada de que o planeta terá de conviver com taxas de juros maiores e por mais tempo do que o imaginado antes enfraquece os ativos de risco no exterior. Na quinta-feira, quando a B3 ficou fechada por conta do feriado de Tiradentes, os mercados internacionais já reagiram à nova indicação do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, de aceleração do juro para 0,50 ponto porcentual em maio. "Após breve intervalo no calendário, a semana se encerra com cara de segunda-feira, e em meio a (ainda mais) discussões sobre inflação e juros ao redor do mundo", afirma Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, em relatório.
Este cenário favorece o dólar ante moedas emergentes e penaliza o Ibovespa, que já contabiliza quatro pregões seguidos de queda, com a perda semanal chegando a 3,10% até o momento.
O Ibovespa cai acima de 1,50% nesta sexta-feira e já testando o nível dos 112 mil pontos, visto pela última vez no dia 18 de março (mínima a 112.474,76 pontos.
Além das questões externas por causa da perspectiva de aceleração dos juros nos EUA, a questão inflacionária interna também segue no radar, avalia Flávio Aragão, sócio da 051 Capital. "Há indicação por parte do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto de a Selic pode avançar um pouco mais, depois de ter sugerido que a alta poderia terminar em 12,75%, em maio. Então, o mercado está devolvendo um pouco a alta acumulada do ano", avalia.
Além disso, acrescenta Aragão, dúvidas a respeito dos preços do aço no momento em que a China tenta impedir arrefecimento maior da sua economia e ruídos políticos internos geram temores. "O político local começa a fazer mais preço. O presidente Jair Bolsonaro parece que vai voltar à postura anterior, é um retrocesso de bater de frente com o STF", cita.
Às 10h13, o Ibovespa caía 1,60%, aos 112.512,87 pontos, na mínima diária. Eletrobras perdia 3,95% (PNB) e 3,55% (ON), enquanto Vale caía 2,61% e Petrobrás entre 2,26% (PN) e 1,57%). Apenas seis ações sobem.
A derrota do governo no TCU no processo sobre privatização da Eletrobras pesa, bem como a nova afronta do presidente da República ao STF no caso Daniel Silveira. Além disso, a liquidez tende a ser reduzida, dado que muitos investidores podem ter emendado a folga de ontem com o fim de semana. Na sexta-feira, o índice Bovespa fechou em baixa de 0,62%, aos 114.343,78 pontos.
Sobre o assunto, pode-se "depreender alguns fatos em comum", segundo avalia em nota a Terra Investimentos. "a) aumento do acirramento da disputa entre o Presidente da República, seus correligionários e o STF e b) o indulto não deverá devolver a elegibilidade ao deputado. Portanto, com o provável movimento reativo do STF, é lógico concluir que mais capítulos dessa novela inusitada ainda estão por vir.".
O presidente Jair Bolsonaro concedeu perdão institucional ao deputado Silveira, 24 horas após sua condenação pelo o STF por incitar agressões a ministros e atentar contra a democracia.
Já em relação à Eletrobras, a suspensão do julgamento da segunda etapa da privatização da companhia por 20 dias pelo TCU representa uma derrota para o governo, que tenta avançar o tema, já que a disputa eleitoral tende a colocar ainda mais risco na operação. Com a decisão, o processo só deve voltar à pauta no dia 11 do mês que vem, o que inviabiliza os planos do governo de realizá-lo até 13 de maio.
Atenção ainda em relação a Petrobras, que finalizou a venda para a empresa Ubuntu Engenharia da totalidade de sua participação nos blocos PAR-T-198 e PAR-T-218, localizados na Bacia do Paraná. As ações da empresa caem, seguindo o recuo de cerca de 2% nas cotações do petróleo, ao passo que o recuo do minério de ferro na China por problemas de demanda pesa nos papéis do setor metálico no Ibovespa.