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Polícia de SP identifica grupos que recebem celulares roubados para obter dinheiro via Pix

A Polícia Civil de São Paulo realizou nesta quarta-feira, 4, uma operação para desmantelar grupos que recebem celulares roubados para obter dinheiro por transferências via Pix, ferramenta de pagamento instantâneo do Banco Central. Os focos da ação foram as regiões do Santa Efigênia e da baixada do Glicério, ambas na região central da capital paulista. Um suspeito foi detido pela polícia.

Durante as buscas, que tiveram o objetivo de cumprir 24 mandados de busca e apreensão, foram apreendidos dezenas de celulares, cartões de diferentes titularidades e outros itens de valor. Foi a segunda fase da Operação Bad Delivery, nome em alusão a crimes cometidos por falsos entregadores. A primeira etapa, realizada há cerca de dois meses, focou nos chamados "conteiros", que são aqueles que alugam contas laranja para o recebimento de valores indevidos.

Em abril, o <b>Estadão</b> revelou que o lucro com o Pix atraiu o Primeiro Comando da Capital (PCC) para roubos de celular em bairros nobres de São Paulo. Na época, a polícia desmontou uma célula na Bela Vista, na região central, que era usada para desbloquear rapidamente telefones roubados em bairros próximos. A polícia ainda investiga se os novos núcleos identificados têm conexão com a facção.

Conforme Roberto Monteiro, delegado da 1ª Delegacia Seccional Centro, a ação desta manhã ocorreu de forma complementar à Operação Sufoco, anunciada nesta quarta pelo governador Rodrigo Garcia (PSDB). A medida é uma tentativa do Estado de dar resposta rápida à alta de roubos e furtos no primeiro trimestre deste ano, que tem assustado moradores de diversas áreas da cidade. Garcia, pré-candidato à reeleição, endureceu o discurso e disse nesta quarta que os criminisos que levantarem a arma para a polícia vão "levar bala".

"Moramos nessa cidade de São Paulo, temos de dar a resposta para a população", disse o novo delegado-geral da Polícia Civil, Osvaldo Nico Gonçalves, em fala aos agentes que participaram da ação nesta quarta. Ao todo, foram mobilizados 60 policiais civis da 1ª Delegacia Seccional, seis equipes do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope) da Polícia Civil, quatro equipes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e quatro equipes do canil da Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Em um dos endereços investigados nesta quarta, a polícia identificou na Rua Helena Zerrener, na baixada do Glicério, o que seria uma "Central do Pix", um apartamento onde receptadores de celulares multiplicam os prejuízos das vítimas com transferências ilegais. A polícia suspeita que um dos quartos do local poderia ser usado inclusive para sequestrar vítimas e forçá-las a fazer transferências. Um suspeito foi detido, mas as investigações prosseguem.

"Sabemos que hoje o celular é o grande objeto de desejo do marginal", disse Monteiro ao <b>Estadão</b>. "Tanto é que nesses vídeos que nós temos em investigações, e também que são veiculados em redes sociais, percebemos que o assaltante que está ali travestido de entregador de delivery – e protegido pela máscara e pelo capacete – a primeira coisa que ele pede para a vítima não é mais a carteira, o anel, é o celular."

Isso acaba, explica o delegado, criando uma cadeia. "Justamente porque eles querem levar esse aparelho para um receptador, preferencialmente desbloqueado ou com a senha junto, para que esse receptador, numa central como a que nós pegamos hoje e desarticulamos, faça inclusive a prática de estelionato a partir dos dados obtidos – especialmente bancários – dentro dos celulares", explicou o delegado.

Em meio a isso, ele explica que um dos focos da polícia, além de evitar assaltos cometidos por falsos entregadores, é desmantelar quadrilhas que cometem desvios pelo Pix e identificar aqueles que fornecem as contas laranjas – para receber as transferências – e também os que recebem os celulares roubados para vender no exterior.

Para a operação desta quarta, Monteiro explica que a polícia tinha a informação de que a localização de ao menos 100 celulares roubados estariam apontando para um dos locais onde as buscas ocorreram – um hotel na Rua dos Guaianazes. Dezenas de quartos foram fiscalizados neste local, e também irregularidades foram encontradas.

Foram apreendidos mais de 50 celulares, cerca de R$ 100 mil em dinheiro, simulacros de armas de fogo, cartões de banco e máquinas de cobrança, drogas, relógios e também dois carros de luxo – um Audi A3 e um Volkswagen T-Cross. Posteriormente a essa etapa da ação, que começou por volta das 5h, os policiais passaram a cumprir mandados de busca em lojas que compram, consertam e vendem celulares na região.

O delegado Monteiro explica que, além das ações conduzidas nesta quarta, há também outras operações específicas para combater esses delitos de furto, roubo, receptação e estelionato praticado a partir de dados obtidos de celulares. Como exemplo, ele cita a Avenida Aberta, focada em coibir os crimes na região da Avenida Paulista.

"Quando esgota tudo isso, eles partem para a engenharia social. Pegam a lista de contatos da vítima e começam a fazer aquele golpe, que temos registrado, que é o pedido de dinheiro", explica o delegado. Apenas na 1ª Seccional Centro, continua, foram apreendidos mais de 10 mil celulares desde 2019.

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