Após três pregões consecutivos de alta, nos quais acumulou valorização de 5,15%, o dólar recuou na sessão desta terça-feira (10) e fechou na casa de R$ 5,13. Investidores aproveitaram leve trégua na aversão ao risco no exterior para promover ajustes e realizar lucros no mercado doméstico de câmbio. Sem novidades no front interno, já que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) apenas reforçou a perspectiva de redução de ritmo de alta da taxa Selic em junho, a divisa oscilou ao sabor das expectativas em torno da magnitude do ajuste monetário nos Estados Unidos.
Entre o fim da manha e o início da tarde o dólar até esboçou nova rodada de alta, rompendo o teto de R$ 5,15 para alcançar máxima a R$ 5,1659. A busca pela moeda americana veio na esteira de declaração da presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, dando conta de que não está descartada a possibilidade de uma alta da taxa básica americana em 75 pontos-base em reuniões do BC americano neste ano. Mester, que não vê a inflação nos EUA de volta à meta antes de 2024, disse que o ritmo de aperto monetário pode ser acelerado no segundo semestre e que a taxa básica deve vir além do nível neutro (de cerca de 2,5%).
O ambiente melhorou ao longo da tarde com o mercado ajustando posições em reação à fala de outro integrante do BC americano. Membro do Conselho do Fed, Christopher Waller afirmou que é possível subir os juros para controlar a inflação sem impactar fortemente o emprego. O cenário econômico atual, disse Waller, não se assemelha ao fim da década de 1970 e 1980, quando a inflação persistia "há uma década" e o Fed promoveu um aperto monetário agudo que jogou a taxa de desemprego para 20%. O quadro de estagflação, combinação de estagnação econômica com inflação elevada, é o mais temido nas mesas de operação.
Com as bolsas americanas em alta firme no meio da tarde, abriu-se espaço para uma realização de lucros mais forte no mercado local. O dólar chegou a tocar pontualmente o patamar de R$ 5,10, ao descer até a mínima a R$ 5,1098. No fim do dia, em meio a uma desaceleração dos ganhos de S&P 500 e Nasdaq, além da virada do Dow Jones para o lado negativo, o dólar moderou as perdas e fechou a R$ 5,1336, em baixa de 0,44%. Apesar do alívio hoje, a divisa acumula alta de 1,15% na semana e já avança 3,86% em maio. No ano, o dólar registra queda de 7,93%.
Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – subia 0,25% no fim dos negócios no mercado local, cotado a 103,913 pontos, maior nível em 20 anos. A moeda americana caiu, contudo, a divisas emergentes pares do real, como o peso chileno, o peso mexicano e o rand sul-africano.
"Vimos uma alta muito forte do dólar com a aversão ao risco no exterior nos últimos dias. Hoje, está caindo um pouco, com uma realização de lucros", afirma o head de câmbio da Acqua Vero Investimentos, Alexandre Netto, que ainda vê um ambiente de pressão sobre o dólar, tanto por questões externas quanto domésticas. Netto lembra postura mais dura do Fed e altas sucessivas da taxa básica americana tendem a tirar a diminuir a liquidez global e, por tabela, diminuir a atratividade das moedas emergentes. Há também o risco de uma desaceleração mais forte da economia chinesa, em meio à política de lockdown para combater o covid, e as incertezas trazidas pela guerra na Ucrânia.
Além do ambiente externo hostil, Netto acredita que a corrida presidencial, que acentua a pressão por mais gastos públicos, tende a entrar cada vez mais no radar do mercado e diminuir o apetite por ativos brasileiros. "É claro que depende muito do fluxo, mas vejo o dólar mais perto da casa de R$ 5,20 e R$ 5,30", afirma o head da Acqua Vero, ressaltando que a alta volatilidade da taxa de câmbio inibe as operações de carry trade, a despeito das taxas de juros locais.
Fontes ouvidas pelo <i>Broadcast</i>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, afirmaram que o governo deve tomar uma decisão sobre o reajuste de salários do funcionalismo público até o próximo dia 22. A tendência é que seja dado um aumento linear de 5%, com custo de R$ 6,3 bilhões em 2022. O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) alertou hoje que o real pode se enfraquecer neste ano por conta de riscos políticos antes das eleições.