Após esboçar uma queda mais aguda pela manhã e passar a maior parte da sessão desta quarta-feira, 11, em baixa, o dólar à vista ganhou força na última hora de negócios e acabou encerrando o dia em leve alta de 0,21%, a R$ 5,1446. Esse movimento se deu em meio a uma deterioração das Bolsas em Nova York, que chegaram a subir mais cedo, e à recuperação de terreno da moeda americana frente a pares fortes no exterior.
Pela manhã, a divisa chegou até a romper o piso de R$ 5,10 e registrou mínima a R$ 5,0935, na esteira da valorização das commodities metálicas e agrícolas, após notícia de diminuição em 50,7% de casos de covid-19 em Xangai nas últimas 24 horas. A possibilidade de relaxamento de <i>lockdown</i> ameniza as preocupações com enfraquecimento da atividade no gigante asiático e, por tabela, da economia global.
"O dólar amanheceu com uma tendência de baixa no mundo, com os números da China, que pode, talvez, acelerar a atividade industrial, o que é bom para commodities e para as exportações brasileiras", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
O contraponto ao alívio vindo da China foi a divulgação do índice de inflação ao consumidor acima do esperado nos Estados Unidos. O CPI subiu 0,3% em abril, ante expectativa de 0,2%. Na comparação anual, o CPI avançou 8,3%, também além do esperado (8,1%), mas marcou a primeira desaceleração desde agosto do ano passado.
Embora tenha esfriado a aposta em alta de 75 pontos-base na reunião do BC americano em junho, a perspectiva ainda é de ajuste monetário rápido nos EUA. Espera-se que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mantenha o discurso duro contra a inflação e que promova elevações seguidas da taxa básica em 50 pontos-base por reunião.
À tarde, o presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, disse que pode apoiar subir os juros nos EUA a um patamar que restrinja o crescimento econômico, caso a alta inflação persista após os Fed funds atingirem um nível neutro. Ele defendeu que o BC americano promova altas seguidas de 50 pontos-base até que a taxa básica chegue ao nível neutro, estimado em cerca de 2,4%.
Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – chegou a operar em queda firme, registrando mínima aos 103,372 pontos, mas se recuperou e, quando o mercado doméstico fechou, marcava 104,011 pontos, alta de 0,9%.
O especialista em renda fixa da Blue3, Nicolas Giacometti, ressalta que, além da recuperação das commodities com arrefecimento do covid na China, o mercado se apoiou no afastamento da alta de 75 pontos-base da taxa básica americana para recompor posições em ativos de risco pela manhã. "A inflação americana é alta, mas mostrou desaceleração anual. Talvez o Fed não tenha que subir assim tanto os juros para a inflação começar a perder força e, com isso, não machuque tanto a economia americana", diz Giacometti, ressaltando, contudo, que o ambiente ainda é de muita incerteza, o que mantém os ativos sem tendência firme.
Por aqui, o IPCA de 1,06% em abril, acima da mediana de Projeções Broadcast (1%), deu vazão a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha que estender o ciclo de aperto monetário para além de junho e levar a Selic para perto de 14%. Em tese, quanto maior a taxa doméstica, melhor para a moeda brasileira.
Profissionais do mercado alertam que a baixa visibilidade diante das incertezas domésticas e externas, sobretudo em relação ao ajuste monetário nos Estados Unidos, aumenta muito a volatilidade e diminui o apetite pelo <i>carry trade</i> (operação que explora diferencial de juros entre países).
Em participação no Broadcast ao Vivo desta quarta-feira, a economista para o Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, afirmou que o dólar deve subir até o patamar de R$ 5,20 com a aproximação das eleições presidências. Também contribui para pressionar o câmbio, segundo a economista, uma política monetária mais contracionista nos Estados Unidos e na zona do euro.