Estadão

Juros terminam sem direção única, com mercado ponderando exterior e inflação

Os juros futuros fecharam com taxas de curto e médio prazos em alta e as longas, em baixa, após alternância de sinais durante toda a sessão e amarradas por um jogo de forças envolvendo o avanço do rendimento dos Treasuries e dos preços do petróleo, com a fraqueza do dólar na contraparte. O noticiário e a agenda estiveram esvaziados, abrindo espaço para que o mercado olhasse mais o exterior, mas ao mesmo tempo desconfiando do apetite ao risco que impulsionou as bolsas, uma vez que o cenário de inflação e atividade global segue cheio de incertezas. Na semana de surpresas com o IPCA, varejo e serviços, a ponta curta se deslocou para cima e a longa, levemente para baixo, configurando perda de inclinação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou a sessão regular em 13,44%, de 13,405% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 13,161% para 13,20%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 12,57%, de 12,52% na quinta, e a do DI para janeiro de 2027, em 12,33%, de 12,36%.

Assim como na quinta, as taxas tentaram se firmar em baixa pela manhã, em ajuste ao acúmulo de prêmios promovido principalmente depois do IPCA de abril acima do consenso, mas, sem um respaldo consistente, o movimento perdeu força já no fim da primeira etapa. O apetite pelo risco no exterior não conseguiu estimular a tomada de risco prefixado.

Lá fora, o que animou os investidores foram as declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na quinta, voltando a defender altas de 50 pontos no juro americano e sinais de melhora no quadro de casos de covid-19 na China. Os juros dos Treasuries subiram, com o fluxo direcionado às Bolsas, que tiveram ganho expressivo.

Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Mirae Asset, diz que o mercado está muito sensível ao que vai acontecer com o juro nos Estados Unidos, e, ao mesmo tempo, pessimista em relação à convergência da inflação para as metas. "Não vejo nada no curto prazo que possa trazer a inflação substancialmente para baixo. O Copom até saiu na frente, mas ficou subindo a Selic a conta gotas e agora a política monetária está demorando a ter efeito", avalia. Para ele, se o BC tivesse promovido um "minichoque" de juros, as expectativas poderiam já estar mais ancoradas.

A perspectiva de melhora no sentimento dos agentes fica ainda mais distante considerando-se que o câmbio não deve mais voltar a ficar abaixo de R$ 5 e que a eleição em breve deve começar a fazer preço nos ativos. "Daqui a pouco, com os ataques e questionamentos, a curva vai começar a incorporar prêmio de risco eleitoral", disse Nepomuceno.

Com a divulgação da pesquisa Focus suspensa por causa da greve dos funcionários do Banco Central, o Projeções Broadcast apurou que a estimativa mediana do mercado para o IPCA de 2022 avançou de 8,0% para 8,40% esta semana e a de 2023 foi a 4,30%, de 4,10%.

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