Os juros futuros começaram a semana em queda firme, refletindo principalmente declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, em evento no período da manhã desta segunda-feira. Falas como a de que "a taxa de juros parada por mais tempo é melhor, mas nem sempre possível" e que a "preferência é por menos flutuação da taxa" deram a senha para o mercado retomar a ideia de que o ciclo de aperto monetário deve se estender menos do que se esperava e que a taxa básica permanecerá em patamar elevado por um período prolongado antes de começar a cair.
Na curva, não houve alteração no quadro das expectativas para o Copom de junho, mas para agosto a aposta de alta de 0,25 ponto porcentual agora é consenso – na sexta-feira dividia espaço com a de 0,50 ponto -, resultando em Selic terminal de 13,5%.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 caiu de 13,445% para 13,39%, e a do DI para janeiro de 2024 fechou a sessão regular em 13,07%, de 13,201% no ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2025 encerrou a 12,465%, de 12,57%. A do DI para 2027 passou de 12,33% para 12,195%.
Ainda que tenha dito que, conceitualmente, no regime de metas de inflação "não há limite para a taxa de juros", Serra indicou, em evento do Goldman Sachs, desconforto do BC em ficar puxando a Selic sob o risco de trazer volatilidade, mostrando preferência por esperar um tempo maior para cortar após ter terminado o ciclo. Até porque disse também que os efeitos do aumento de juros devem ser sentidos na economia a partir do segundo semestre.
Nesse contexto, como lembra a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, a despeito das revisões altistas para o PIB feitas recentemente, é preciso ter cautela. "O impacto da Selic mais alta ainda deve ser sentido pelos setores ligados ao consumo, a defasagem (da política monetária) está maior que o usual, a atividade está mais resiliente e a inflação, também", afirmou no Podcast "Comentário de Mercado".
O Copom já havia indicado para junho um aumento "de menor magnitude" para a Selic ante o de 1 ponto aplicado em maio, mas havia dúvidas sobre se o ciclo terminaria por aí. Diante do IPCA de abril mais salgado, riscos de um Federal Reserve mais agressivo e alta nas commodities e, ainda, da distância entre as expectativas de inflação e as metas, a curva passou a embutir prêmios para altas também em agosto e setembro. "O mercado hoje redistribuiu as apostas, mantendo a expectativa de 0,5 ponto em junho e um prêmio residual de 0,25 ponto para agosto", afirmou Marcello Negro, gestor de multimercado da Fator Administração de Recursos.
A curva, nesta tarde, manteve a distribuição de 60% de chance de aumento de 0,5 ponto e 40% de chance de 0,75 ponto para o Copom de junho, mas para agosto a probabilidade de alta de 0,25 ponto, que na sexta-feira era de quase 50%, nesta segunda era de praticamente 100%. Para o Copom de setembro e outubro, os 8 pontos precificados no fim da semana passada caíram para apenas 2, indicando manutenção da Selic naquelas reuniões. Os cálculos são da Greenbay Investimentos.
Os DIs continuam apontando queda da Selic a partir do segundo semestre de 2023, e na avaliação de Negro, da Fator, o ciclo de baixa não deve começar com 0,25 ponto e sim com 0,5 ponto. "O mercado está entendendo que o Copom pode iniciar com um corte mais firme", afirmou.