Os juros futuros encerraram o dia perto dos ajustes anteriores, com viés de baixa, refletindo a agenda local esvaziada, petróleo e juros dos Treasuries em queda, mas com efeito limitado pela piora do câmbio. A retomada de <i>lockdowns</i> na China reforçou o risco de recessão global, levando os investidores a fugirem das ações para os títulos e para a moeda dos Estados Unidos, penalizando ainda as commodities.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou a sessão regular em 13,33%, de 13,365% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 passou de 13,001% para 12,99%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,38% (12,41% na terça) e a do DI para janeiro de 2027, em 12,17% (mínima), de 12,19%.
Entre os ativos domésticos, os juros futuros foram os que menos sentiram os impactos negativos do risk off, até porque a terça também não haviam acompanhando a melhora do câmbio e Bolsa na mesma medida. O comportamento mais neutro se dá ainda num momento de sintonia fina da política monetária, com o Banco Central brasileiro bastante adiantado no processo de ajuste em relação aos demais.
O gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier, lembra que "o mercado está no meio do tiroteio" da discussão sobre até onde os BCs vão levar o aperto monetário necessário para endereçar o problema da inflação com o menor dano possível à atividade, num quadro já delicado para a economia chinesa. "Não temos visto montagem expressiva de posições no DI", resumiu.
Relatos de que a região de Binhai, na cidade de Tianjin, colocou mais uma área sob lockdown para conter o avanço da covid-19 e de que mais casos da doença seguem sendo registrados em Pequim estimularam posições globais defensivas. Alexandre Póvoa, da Meta Asset, destaca que o Goldman Sachs revisou para 4% o crescimento da China em 2022. "Junto com os dados chineses muito ruins de ontem, está fazendo preço nas commodities e nas bolsas hoje. Agregue-se a isso a divulgação de dados preocupantes de preços na zona do euro (BCE atrás da curva) e o maior nível de inflação no Reino Unido nos últimos 40 anos", disse.
Em meio a tantas incertezas, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, endossou a ideia de que a Selic deve permanecer por um longo período estacionada antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar um ciclo de reversão. "Pensar em distensionar a política monetária é uma etapa que está lá na frente", disse, durante evento organizado pela Câmara Espanhola e pelo escritório Pinheiro Neto Advogados. Porém, alertou que "se precisar subir mais o juro porque o juro global sobe, a gente também pode fazer" e que à medida que se aproxima o fim do ciclo é natural que as decisões fiquem "cada vez mais" dependentes dos dados.