Um helicóptero do Ibama caiu na noite desta segunda-feira, 30, quando sobrevoava a região do Parque Nacional do Pantanal, em Poconé, no Mato Grosso. O piloto da aeronave, que era funcionário da empresa contratada para prestar as serviços de helicópteros ao Ibama, morreu no acidente. Havia mais três tripulantes na aeronave, que sobreviveram.
A aeronave apoiava o trabalho de combate a incêndio na região. As informações foram confirmadas pelo Ibama, que ainda não deu mais detalhes sobre o ocorrido, nem a identidade do piloto.
O Ibama não possui helicópteros próprios. Trata-se de equipamentos alugados de terceiros. Neste último trimestre do ano, o órgão vinha atrasando uma série de pagamentos à empresa prestadora do serviço. Em outubro, as contas em aberto com helicópteros chegavam a R$ 5 milhões.
Em agosto, o Ibama decidiu reduzir o número de helicópteros que aluga para vigiar o desmatamento e as queimadas no Pantanal e Amazônia. Por determinação do Ministério do Meio Ambiente para diminuir gastos, o órgão passou a contar com quatro aeronaves para auxiliar na vigilância de uma área de 5 milhões de quilômetros quadrados. Até então, havia seis aeronaves. Servidores que atuam no setor afirmaram à reportagem que os equipamentos operam no limite, dadas as limitações das máquinas.
O responsável pelo setor alertou que as reduções trariam consequências graves para o trabalho de fiscalização foi exonerado uma semana depois de encaminhar uma série de ofícios nesse sentido. Os seis helicópteros são utilizados para fiscalizar todo o País. Em época de seca, quando os incêndios proliferam na região Norte, as horas de voo dos equipamentos aumentam significativamente.
Sob o argumento de que é preciso reduzir os gastos, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, determinou ao Ibama que fizesse mais cortes, limitando o aluguel a somente quatro aeronaves, porque o orçamento dos helicópteros não pode ultrapassar o custo anual de R$ 60 milhões.
Com o número atual de seis helicópteros, cada um já tinha a missão de fiscalizar cerca de 833 mil km², mais de três vezes o Estado de São Paulo. Com quatro aeronaves, esse volume sobe para 1,250 milhão de km². É como se um único helicóptero fosse usado para sobrevoar todo o Estado do Pará.
O contrato atual, de seis aeronaves, vence em fevereiro do ano que vem.
Julio Cesar Basile, comandante da Força Aérea aposentado pela Polícia Federal, disse à reportagem que a redução no número de aeronaves à disposição para fiscalizar a Amazônia é "uma irresponsabilidade absurda e injustificável".
"Falar de quatro helicópteros para o Ibama fazer esse trabalho é uma vergonha, uma brincadeira. É como dizerem pra você derrubar o Pão de Açúcar com uma colher de sopa nas mãos, tendo 30 dias para isso. Vamos passar ainda mais vergonha lá fora, é um absurdo", disse Basile. "Fico em dúvida até que ponto isso é desconhecimento ou é proposital mesmo, porque tem gente ali que sabe o que está fazendo. Se não é desconhecimento, é sabotagem", afirmou Basile, criador do grupo tático aéreo no Maranhão e responsável pela criação da divisão de helicópteros do próprio Ibama, no ano 2000.
A morte do piloto amplia a tragédia humana causada pelos incêndios criminosos que tomaram a região do Pantanal neste ano, em volume recorde desde o início da série histórica.
Em 9 de setembro, Luciano da Silva Beijo, 36 anos, zootecnista de uma fazenda no Mato Grosso, morreu após ser vítima de incêndio que tomava as terras da fazenda onde trabalhava, na cidade de Cáceres. Ele tentava apagar o fogo, mas tropeçou durante a ação e foi tomado pelo fogo.
No dia 1º de setembro, o analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Welington Fernando Peres Silva, morreu em Goiás, vítima de queimaduras sofridas durante uma operação realizada no Parque Nacional das Emas.