Em sua vasta trajetória nas telas e nos palcos, Ney Latorraca guarda com carinho a sua participação na novela Vamp, que estreava há 30 anos na Globo e que atualmente está disponível no Globoplay. O ator de 76 anos, que comemorou a primeira dose da vacina contra a covid-19, interpretava o Conde Vladimir Polanski, o Vlad, um poderoso vampiro que aterrorizava a população de Armação dos Anjos, cidadezinha no litoral do Rio de Janeiro, junto com sua trupe em busca de um pescoço para morder. Aliás, Ney afirma que hoje em dia o Vlad não teria dúvida sobre quem seria seu alvo. "Ele morderia todos os que são negacionistas, aplicaria uma dose, daí eles sairiam pelas ruas falando vacina já, e como ele pode voar, rodaria o Brasil inteiro", brinca o ator em entrevista ao <b>Estadão</b>.
Escrito por Antônio Calmon, o folhetim conquistou o público de todas as idades com seus personagens nada comuns e engraçados e uma trama que mistura comédia, suspense e rock. Nessa combinação, o carismático elenco fez a diferença. Ney Latorraca, por exemplo, entrou na novela para participar de nove capítulos e ficou até o final, com sua presença impondo o ritmo e contaminando os colegas com liberdade criativa. Foi exatamente essa característica que quase o tirou da novela. Ele conta que, certo dia, o texto chegou com um lembrete, frisando que ele "estava brincando demais em cena, improvisando em cima do texto do Calmon, que é meu amigo". Nesse momento, Ney respondeu que tudo bem, mas que deixaria a novela. "Mas eles me chamaram de novo uns três dias depois", revela o ator, que diz ter aceitado retornar, mas com a condição de ter liberdade total, o que foi aceito por todos. "Então eu voltei fazendo tudo de novo."
Ney se diverte ao lembrar como foi compondo seu personagem e como isso acabou definindo a forma como ele e os colegas se portaram em cena. Segundo o ator, muitos dos trejeitos e falas surgiram de forma inesperada, era algo que podia ou não dar certo. "Em vez de eu falar gostoso, eu dizia gotoso", conta sobre um dos aspectos de Vlad, que se tornou uma marca dele. Outra coisa que também aconteceu sem querer, afirma o ator, foi o fato de a prótese usada pelos vampiros impedir que os atores tivessem uma dicção normal. "Aqueles dentinhos atrapalhavam um pouco e o personagem falava diferente, ciciava, daí coloquei isso no personagem", esclarece. Fora isso, algumas vezes acontecia de o dente cair e "eu colocava de novo e isso tudo ia pro ar", o que, para Ney, ajudou a aproximar ainda mais o público.
Essa linha mais cômica abrangia outros núcleos da novela, como a família do capitão Jonas Rocha (Reginaldo Faria), com seus seis filhos, e que se casa com Carmem Maura (Joana Fomm), que também tem o mesmo número de filhos. Ali o público pôde ver alguns nomes que estavam iniciando a carreira. Surgem ainda bem jovens Fábio Assunção, Luciana Vendramini, Pedro Vasconcellos, Fernanda Rodrigues, Bel Kutner, entre outros. Sem contar a família dos vampiros, formada por Matoso (Otávio Augusto), que aparece em cena com apenas um dente, Mary (Patricia Travassos), Matosão (Flávio Silvino) e Matosinho (André Gonçalves).
Além de seu vampiresco Vlad, que ganhou os palcos quando Vamp foi transformado em musical. Nessa época Ney se desdobrava para gravar a novela no Rio e estar em cartaz em São Paulo com a peça Irma Vap, ao lado de Marco Nanini e com direção de Marília Pêra. Durante cerca de nove meses, Ney fazia inúmeros personagens na peça e partia para o Rio para gravar a novela. "Quando você está fazendo dois sucessos, você acaba não sentindo. O retorno é muito grande do público, tanto no teatro quanto na TV." As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>