Estadão

Guerra aumenta o lucro da Noruega com petróleo e gás; país é instado a ajudar

A busca frenética da Europa por alternativas à energia russa aumentou dramaticamente a demanda – e o preço – do petróleo e do gás da Noruega. À medida que as receitas aumentam, o segundo maior fornecedor de gás natural do continente é criticado por estar lucrando com a guerra na Ucrânia.

O primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki, que espera que o país escandinavo substitua parte do gás que a Polônia costumava obter da Rússia, disse que, com lucros "gigantescos" de petróleo e gás, a Noruega está se alimentando indiretamente da guerra. Ele defendeu que a nação use esse benefício inesperado para apoiar os países mais atingidos, principalmente a Ucrânia.

Os comentários causaram mal estar, mesmo quando alguns noruegueses se perguntam se estão fazendo o suficiente para combater a guerra por meio de ajuda econômica à Ucrânia e fornecimento a países vizinhos para acabarem com sua dependência da energia russa para abastecer a indústria, gerar eletricidade e abastecer veículos.

Os impostos sobre os lucros inesperados das empresas de petróleo e gás têm sido frequentes na Europa para ajudar as pessoas a lidar com as contas de energia crescentes, agora exacerbadas pela guerra. A Espanha e a Itália os aprovaram, enquanto o governo do Reino Unido planeja introduzir um. Morawiecki está pedindo à Noruega que vá mais longe enviando petróleo e lucros para outras nações.

A Noruega, um dos países mais ricos da Europa, destinou 1,09% de sua renda nacional ao desenvolvimento no exterior – uma das porcentagens mais altas do mundo – incluindo mais de US$ 200 milhões em ajuda à Ucrânia. Com os cofres de petróleo e gás inchados, alguns gostariam de ver ainda mais dinheiro destinado a aliviar os efeitos da guerra – e não desviado do financiamento a agências que apoiam as pessoas em outro lugar.

"A Noruega fez cortes dramáticos na maioria das instituições da ONU e no apoio a projetos de direitos humanos para financiar o custo de receber refugiados ucranianos", disse Berit Lindeman, diretora de políticas do grupo de direitos humanos Comitê Norueguês de Helsinque.

Ela ajudou a organizar um protesto na última quarta-feira em frente ao Parlamento em Oslo, criticando as prioridades do governo e dizendo que os comentários poloneses tinham "alguns méritos". "Parece muito feio quando sabemos que os rendimentos dispararam este ano", disse.

Os preços do petróleo e do gás já estavam altos em meio a uma crise de energia e dispararam por causa da guerra. O gás natural está sendo negociado a valor três a quatro vezes maior do que era comercializado no mesmo período do ano passado. O petróleo bruto tipo Brent ultrapassou o valor de US$ 100 o barril após a invasão, há três meses, e praticamente não caiu abaixo desse patamar desde então.

A gigante de energia norueguesa Equinor, que é de propriedade majoritária do Estado, lucrou quatro vezes mais no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado. O desempenho levou o governo a revisar sua previsão de receita de atividades petrolíferas para 933 bilhões de coroas norueguesas (US$ 97 bilhões) este ano – mais de três vezes o que ganhou em 2021. Grande parte desse montante será canalizada para o enorme fundo soberano da Noruega – o maior do mundo – para apoiar a nação quando o petróleo secar. O governo não está considerando desviá-lo para outro lugar.

A Noruega "contribuiu com apoio substancial à Ucrânia desde a primeira semana da guerra, e estamos nos preparando para fazer mais", disse o secretário de Estado Eivind Vad Petersson por e-mail. Segundo ele, o país enviou apoio financeiro, armas e mais de 2 bilhões de coroas em ajuda humanitária "independentemente dos preços do petróleo e do gás".

Enquanto isso, os países europeus ajudaram a inflar os preços da energia norueguesa ao tentar diversificar sua oferta fora da Rússia. Eles foram acusados de ajudar a financiar a guerra continuando a pagar pelos combustíveis fósseis russos.

Essa dependência energética "fornece à Rússia uma ferramenta para intimidar e usar contra nós, e isso foi claramente demonstrado agora", disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, ex-primeiro-ministro da Noruega, na reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

A União Europeia, composta por 27 países, pretende reduzir a dependência do gás natural russo em dois terços até o final do ano. A Noruega fornece 20% a 25% do gás natural da Europa, contra 40% da Rússia antes da guerra.

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