Estadão

Polarização marca primeiro turno da eleição presidencial na Colômbia

Os quase 39 milhões de colombianos que podem votar no primeiro turno da eleição presidencial de hoje estão presos mais uma vez na polarização entre dois grupos: os uribistas, conservadores ligados ao ex-presidente Álvaro Uribe, e os petristas, progressistas seguidores de Gustavo Petro.

Especialistas preveem uma abstenção de 47% – quase metade do eleitorado. A luta para ocupar a Casa de Nariño, sede do governo, segundo pesquisas, é a repetição do cenário de 2018, quando Petro foi derrotado pelo atual presidente, Iván Duque, do Centro Democrático, partido fundado por Uribe.

Desta vez, as pesquisas colocam o favoritismo no colo de Petro, que concorre pelo Pacto Histórico, uma coalizão de partidos de esquerda que teria 40% das intenções de voto. Em segundo lugar, aparece Federico "Fico" Gutiérrez, ex-prefeito de Medellín, com 25%.

Em terceiro, uma surpresa: Rodolfo Hernández, candidato da direita radical, que dobrou de tamanho nas últimas semanas, chegando a 20% das intenções de voto, ameaçando a posição de Gutiérrez no segundo turno, marcado para 19 de junho.

Gutiérrez ganhou as primárias da Coalizão Equipe Colômbia, cujo discurso é próximo do uribismo. Embora ele não seja do mesmo partido de Duque e Uribe, eles compartilham simpatias. O candidato dos uribistas, Óscar Zuluaga, renunciou em março, alegando "razões pessoais", e anunciou apoio a "Fico".

<b>Polarização</b>

Gustavo Vega, diretor da Fundação Forjando Futuro, ex-coordenador da campanha de Petro no Departamento de Antioquia (cuja capital é Medellín), diz que uma vitória da esquerda já no primeiro turno "daria mais tranquilidade ao país tomado pela polarização". Segundo ele, a possibilidade existe, de acordo com pesquisas internas.

Do outro lado, Daniel Palacios, membro da campanha de Gutiérrez, diz que a Colômbia está numa encruzilhada, entre um projeto socialista, fracassado em outros países latino-americanos, e uma candidatura que defende as liberdades individuais, como a de Gutiérrez.

O problema mais premente de "Fico", no entanto, vem da direita radical. Hernández é um bilionário extrovertido, do setor de construção civil que tem uma fortuna de US$ 500 milhões. Aos 77 anos, ele ameaça tomar o bilhete de passagem de Gutiérrez para o segundo turno. Hernández já foi comparado a Donald Trump, já que sua carreira política também começou tarde, depois dos 65 anos.

Mauricio Tobón, coordenador da campanha de Hernández em Antioquia, apresenta o candidato da direita radical como uma alternativa à polarização entre uribistas e petristas, da qual os colombianos, segundo ele, estariam cansados.

Em sua campanha, Hernández percorreu apenas as principais cidades. Sua candidatura, no entanto, apostou tudo nas redes sociais, que impulsionaram seu nome a ponto de superar candidatos mais conhecidos – como o ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo, que amarga 5% das intenções de voto.

<b>Réplica</b>

Para Miguel Jaramillo Luján, consultor político, o cenário atual é uma "réplica atomizada do bipartidarismo" colombiano, que ao longo da história dividiu o país entre liberais e conservadores.

De acordo com ele, a Colômbia hoje gravita entre duas correntes políticas, representadas por Petro e Uribe, que se alimentam da rejeição ao adversário – exatamente como faziam liberais e conservadores na maior parte dos séculos 19 e 20.

Por enquanto, não existe um terceiro elemento sólido que possa contrabalançá-los. Para ele, é provável que a eleição seja decidida no segundo turno, pois as pesquisas mostram uma estagnação dos dois líderes, apesar do crescimento de Hernández.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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