Estadão

Chanceler russo viajará à Turquia para discutir liberação de grãos da Ucrânia

O ministro das Relações Exteriores da Rússia visitará a Turquia na próxima semana para discutir a possível liberação de grãos ucranianos dos portos do Mar Negro, disse seu colega turco nesta terça-feira, 31. O esforço enfrenta fortes obstáculos, mas, se bem-sucedido, pode ajudar a aliviar uma crise alimentar que começa a ser sentida em torno de o mundo.

Uma delegação militar acompanhará o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, em 8 de junho para conversar com o Ministério da Defesa da Turquia sobre o estabelecimento de um corredor seguro para navios que transportam grãos, disse o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, em entrevista televisionada.

A Rússia tomou alguns dos portos ucranianos do Mar Negro e bloqueou o resto, prendendo navios de carga carregados de milho, trigo, sementes de girassol, cevada e aveia. Isso fez com que as exportações da Ucrânia, normalmente entre os maiores fornecedores do mundo, despencassem, contribuindo para o aumento dos preços globais dos alimentos e os temores de uma fome generalizada muito além das fronteiras da Ucrânia.

O anúncio veio um dia depois que o presidente russo, Vladimir Putin, disse a seu colega turco, Recep Tayyip Erdogan, em um telefonema que a Rússia estava pronta para facilitar o trânsito de mercadorias sob a coordenação da Turquia.

A Rússia argumenta que a presença de minas marítimas ao redor de Odessa, o porto ucraniano mais importante do Mar Negro, coloca qualquer operação desse tipo em risco. Porém, nesta terça, Cavusoglu disse que elas podem ser liberadas em duas semanas.

No entanto, os obstáculos políticos colocados pela Rússia parecem mais complicados de contornar: Moscou está exigindo a remoção de sanções sobre seus navios de exportação e quer evitar a possibilidade de que os navios de grãos ucranianos voltem carregando armas.

"Aprendemos ontem à noite que Putin e Zelensky podem cooperar" na questão dos grãos, disse Cavusoglu, referindo-se ao líder russo e presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky.

As Nações Unidas sugeriram este mês que poderiam cooperar com a Rússia, Turquia e Ucrânia para ajudar a chegar a um compromisso, e a Turquia concordou em princípio em fazer parte desse esforço.

<b>Rússia culpa ocidente por crise alimentar</b>

A Rússia voltou a afirmar nesta terça que apenas Kiev e o Ocidente podem agir para permitir as exportações de cereais ucranianas e russas. "Os países ocidentais, que criaram uma tonelada de problemas artificiais fechando seus portos aos navios russos, cortando as cadeias logísticas e financeiras, deveriam pensar seriamente no que mais importa", disse Lavrov durante uma visita ao Bahrein.

O presidente Zelensky, no entanto, acusa Moscou de "criar deliberadamente esse problema para que toda a Europa lute e para que a Ucrânia não ganhe bilhões de dólares com suas exportações". Segundo ele, o bloqueio russo aos portos marítimos ucranianos impede que Kiev exporte 22 milhões de toneladas de grãos.

Em seu discurso noturno na segunda-feira, Zelensky disse que o resultado é a ameaça de fome em países dependentes do grão e pode criar uma nova crise migratória. Ele acusa que "isso é algo que a liderança russa busca claramente". Ele chama as alegações da Rússia de que as sanções não permitem que ela exporte mais alimentos "cínicos" e uma mentira.

O conflito na Ucrânia alterou o equilíbrio alimentar mundial, gerando temores de uma crise que afetará especialmente os países mais pobres. A Ucrânia, um dos principais exportadores de grãos, especialmente milho e trigo, viu sua produção bloqueada pelos combates.

A Rússia, outra potência produtora de cereais, não pode vender sua produção e seus fertilizantes devido às sanções ocidentais que afetam os setores financeiro e logístico. Ambos os países produzem um terço do trigo mundial.

<b>Primeiro navio sai de Mariupol</b>

Um primeiro navio comercial com metal saiu do porto ucraniano de Mariupol, sob controle das forças de Moscou, com destino à localidade russa de Rostov-Don, anunciou nesta terça-feira o líder separatista pró-Moscou, Denis Pushilin.

"Hoje saíram do porto de Mariupol 2.500 toneladas de bobinas de chapa laminada", escreveu no Telegram o líder dos separatistas pró-Rússia da região de Donetsk. "Este centro de transporte é muito importante para o Donbass. É um porto muito importante no Mar de Azov e o único onde é possível carregar todo tipo de mercadorias, também no inverno", explicou.

O líder pró-Rússia afirmou que parte dos navios do porto de Mariupol passará a integrar a frota comercial da autoproclamada república de Donetsk (DNR).

Localizado no Mar de Azov, que por sua vez se conecta com o Mar Negro, o porto de Mariupol era, antes da ofensiva militar russa, o segundo porto civil mais importante da Ucrânia, atrás apenas de Odessa. A infraestrutura permitia a exportação em larga escala de cereais ucranianos.

O Kremlin anunciou a conquista de Mariupol em 21 de abril, após quase dois meses de combates que deixaram grande parte da cidade destruída. Mas os últimos defensores ucranianos no local, entrincheirados na siderúrgica Azovstal, se renderam apenas depois de um mês do anúncio. (Com agências internacionais).

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