Já faz quase duas semanas que museus e centros culturais de São Paulo estão com as portas fechadas como parte das medidas para tentar conter o avanço da covid-19. Em outros tempos, a suspensão das atividades deixaria o público sem nenhum acesso às coleções. Mas a internet permite boas alternativas: museus estão diversificando suas atrações online para manter seus acervos vivos, mesmo sem estarem fisicamente abertos.
A Pinacoteca, que já vinha buscando maior proximidade com o público na web – como ao adotar a forma "Pina" em seus materiais de comunicação -, reforçou a presença nas redes. Com a hashtag #pinadecasa, passou a apresentar diariamente informações sobre sua coleção. Sempre pela manhã, no Facebook e no Instagram, uma postagem com descrições feitas pelos curadores traz curiosidades sobre determinada obra.
Do brasileiro Almeida Júnior, a pintura Leitura, de 1892, foi a primeira a ganhar destaque. Na composição, à frente de uma paisagem calma, uma mulher lê um livro em um terraço. Ao visualizar a obra, estimulado a interagir na caixa de comentários, o público reage de forma bastante positiva: alguns elogiam a escolha da pintura por passar "tranquilidade neste momento turbulento"; outros escrevem que, embora já tenham visto a tela no museu, desconheciam os detalhes apresentados.
A Pinacoteca também passou a utilizar os stories no Instagram para relembrar antigas exposições e compartilhar fotos de seus seguidores no museu. A interação, porém, não se restringe ao passado: hoje, às 11h, seu diretor-geral, Jochen Volz, fará uma transmissão ao vivo para contar o que esperar da mostra OsGêmeos: Segredos, que, inicialmente prevista para abrir este fim de semana, precisou ser adiada.
O Itaú Cultural chegou a inaugurar duas mostras antes do avanço do vírus – uma dedicada ao arquiteto Rino Levi e outra com obras de Sandra Cinto.
Agora, o público pode aproveitá-las pelo site do centro cultural. É possível fazer um tour em realidade virtual pelo hoje extinto Cine Universo, projetado por Levi em 1936. Entre 2 e 12 de abril, haverá também a mostra online Metrópole em Construção, com filmes sobre a urbanização de São Paulo. De Sandra Cinto, o site compartilha um caderno sobre seu universo poético – um plano de aula proposto pela artista, que pode servir como instrumento lúdico para pais e filhos durante a quarentena. A partir de 6 de abril, haverá ainda um vídeo em 360 graus de sua exposição, que foi interrompida.
Também na Avenida Paulista, o Instituto Moreira Salles (IMS) lançou ontem um podcast com dicas de leitura. Conhecido por realizar mostras de expoentes da fotografia, o centro cultural tem reforçado a divulgação de seu acervo online nas redes sociais – como os trabalhos de Peter Scheier, exibidos até então em uma retrospectiva no local. No YouTube, há vídeos de conversas com artistas e curadores. E, na próxima terça-feira, 31, das 14h às 22h, o instituto promove uma maratona de edição de verbetes da Wikipédia sobre arte brasileira e feminismo.
Outro que também investe em uma maratona para editar verbetes da Wikipédia é o Museu do Ipiranga, que realiza seu WikiConcurso até 15 de junho. Fechada há anos, a instituição vem buscando intensificar sua presença online enquanto não volta a funcionar fisicamente.
Cartão-postal da cidade, o Masp tem adotado a estratégia de difundir seu acervo nas redes sociais. Outra aposta é a expansão do aplicativo Masp Áudios (disponível para Android e iOS) unindo seu conteúdo – que inclui comentários de curadores, artistas, professores e pesquisadores – a vídeos divulgados nos canais digitais. No YouTube, há uma boa seleção de vídeos de seminários, palestras, entrevistas com artistas e exposições.
No MAM, além de poder fazer um tour por mais de dez exposições – incluindo exibições recentes de Mira Schendel e Ismael Nery -, o público pode conferir diariamente nas redes sociais postagens feitas com a hashtag #HistóriasDoAcervo. Toda quarta-feira, o museu divulga também conteúdos com #ArtistaDaSemana – as últimas postagens foram dedicadas a Antonio Dias e Thiago Honório, ambos com trabalhos a serem expostos este ano no museu.
Também às quartas-feiras, o setor educativo faz lives com oficinas, contação de histórias e brincadeiras para as crianças. Há ainda quiz, indicação de leituras e playlists para ajudar no entretenimento durante a quarentena.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>