Estadão

Pressão por mais juros nos EUA contamina Ibovespa, que tem 6ª queda seguida

Indicação de que bancos centrais mundiais terão de ser mais agressivos na condução das suas políticas monetárias, sobretudo dos Estados Unidos provoca cautela nos mercados: bolsas cedem e o dólar sobe. Este ambiente de aversão a risco leva o Ibovespa à sexta queda consecutiva, com perda semanal superior a quase 5,5%, por ora. No pior momento, caiu 2,28%, aos 104.647,59 pontos. Na máxima, alcançou 107.092,37 pontos (variação zero).

As perdas na carteira são quase generalizadas. Perto de 11 horas, apenas cinco ações subiam, mas a alta não supera 0,50% em sua maioria. O índice Ibovespa caía 1,86%, aos 105.103,71 pontos.

"É um movimento de Risk off o que indica fuga de ativos de risco global. Apesar das commodities ainda em níveis elevados, o Ibovespa também sofre", avalia Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3. A questão, diz, é que os Estados Unidos não estão conseguindo ser incisivos no controle da inflação. "Vamos ver qual será o tom de Jerome Powell presidente do Fed Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, cujo discurso tem mudado muito", diz Esteves, ao referir-se à entrevista que Powell concederá após a decisão do FOMC na quarta-feira.

A piora dos mercados reflete o índice de inflação dos Estados Unidos, o índice CPI, que subiu 1,0% em maio ante abril, superando a estimativa do mercado, de 0,7%. No confronto interanual, avançou 8,6% (previsão: 8,3%). "Essa inflação não deve ser tão transitória e esses 8% podem não ser o pico", avalia Enrico Cozzolino, head de renda variável da Levante Investimentos.

O CPI dos EUA superior ao estimado coloca mais pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que se reúne na semana que vem para decidir os rumos da política monetária, dado que a inflação parece não dar trégua. As atenções ficarão sobretudo em torno de sinais do Fed em relação aos encontros de julho e setembro.

"Reforça a nossa impressão de que a inflação de fato não seria transitória nos Estados Unidos", avalia Cozzolino, ao lembrar que o Fed chegou a bater por muito tempo na tecla de que o avanço dos preços seria passageiro. Neste sentido, a autoridade monetária terá de continuar subindo os juros em 0,5 ponto porcentual pelo menos nos próximos encontros, o que "pode gerar um problema grande nos mercados", em termos de dívida.

Para Armstrong Hashimoto, sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos, o CPI deixa a expectativa de que os EUA terão de acelerar alta de juros e fazer aperto de forma mais forte . "Era algo que já estava no radar, mas se o indicador tivesse vindo mais brando, aliviaria os mercados", afirma, acrescentando que a queda do Ibovespa menos acentuada do que em Nova York pode estar refletindo o alívio no IPCA de maio, informado ontem, e o aumento das vendas do varejo do País em abril, que saiu hoje.

A divulgação do CPI vem um dia após a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que manteve os juros mas anunciou fim das compras de bônus, indicou altas dos juros, e com sua presidente Cristine Lagarde demonstrando preocupação inflacionária. "Riscos para inflação estão primariamente apontados para cima", afirmou Lagarde.

O clima nos mercados é de aversão a risco, afirma o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, em comentário matinal a clientes e à imprensa. "Depois do BCE indicar alta de juros, o tema retirada de estímulos segue no radar", diz. "O CPI deve ser o guia para os mercados hoje."

Na China, a inflação ficou comportada em maio. O índice de preços ao consumidor (CPI) repetiu a taxa anterior, de 2,1% na comparação anual. Os contratos futuros de petróleo sobem moderadamente, com investidores atentos à demanda na China, após a notícia de testes em massa contra a covid-19 em sete dos 16 distritos de Xangai.

O temor em relação a uma reabertura gradual pelo gigante asiático pode reforçar a cautela externa sobre o mercado local. O minério de ferro voltou a cair na China, pressionando para baixo as ações ligadas ao setor na B3.

As ações da Eletrobras ficam no foco das atenções do mercado, um dia após o processo de privatização da empresa, que movimentou R$ 33,7 bilhões. Trata-se da maior oferta de ações em bolsa deste ano no Brasil, a segunda maior do mundo e a segunda mais elevada da história da América Latina. Os papeis cedem mais de 4%. No entanto, acumulam ganhos de quase 30% em 2022.

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