Após encerrar a semana passada com valorização de 4,39%, o dólar subiu mais de 2,5% na sessão desta segunda-feira, 13, terminando o pregão na casa de R$ 5,11, no maior nível de fechamento em mais de um mês. O dia foi marcado por liquidação global de ativos de risco e busca de refúgio na moeda americana. Investidores ajustam posições à perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), que anuncia sua decisão de política monetária na quarta-feira (15), tenha que ser mais agressivo no processo de alta dos juros, dada a aceleração da inflação ao consumidor nos EUA em maio para o maior nível em mais de 40 anos.
O aperto das condições financeiras provavelmente vai se estender para outros mercados desenvolvidos, lançando dúvidas sobre o ritmo de crescimento global. Na quinta-feira (16), o Banco da Inglaterra (BoE) deve anunciar novo aumento de juros. O Banco Central Europeu (BCE) adotou um tom mais duro ao falar da inflação e acenou com alta da taxas em julho. Não bastasse os efeitos colaterais do combate tardio à inflação pelos BCs desenvolvidos, há notícias de retomada de lockdowns em Xangai, na China, o que joga uma sobra sobre a demanda por commodities.
É grande também a expectativa para saber como o Comitê de Política Monetária (Copom) vai se comportar tendo em vista a deterioração do ambiente externo. Por ora, as apostas são de que o BC vai elevar a taxa Selic, na quarta-feira, em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano, e deixar a porta aberta para um aumento adicional. Como o BC brasileiro saiu na frente no ciclo de aperto monetário, o diferencial de juros interno e externo tende a continuar elevado. A aversão ao risco e a volatilidade da taxa de câmbio, contudo, reduzem a atratividade das operações de carry trade, uma das molas recentes de apreciação do real.
A corrida ao dólar no exterior levou o índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis pares fortes – ao ultrapassou 105 mil pontos, no maior patamar desde novembro de 2002, e derrubou as divisas emergentes, com exceção do rublo russo. O peso mexicano foi o destaque negativo, com perdas superiores a 3,5%, seguido pelo real. As taxas dos Treasuries subiram em bloco, com o yield T-note de 10 anos, principal ativo do mundo, superando 3,40% nos momentos mais agudos, para o maior patamar em 11 anos.
No mercado doméstico, o dólar já abriu em alta superior a 1%, acima da linha de R$ 5,00. A barreira de R$ 5,10 foi rompida ainda pela manhã, com a moeda correndo até a máxima de R$ 5,1314 (+2,98%). Após passar boa parte da tarde entre R$ 5,09 e R$ 5,10, o dólar voltou a acelerar o ritmo de alta na última hora do pregão, em sintonia com a piora no exterior, e chegou tocar pontualmente o nível de R$ 5,13. No fim do dia, subia 2,54%, cotado a R$ 5,1151 – maior valor de fechamento desde 12 de maio (R$ 5,1402). Com isso, já acumula valorização de 7,63% em junho.
"Está se desenhando um aperto das condições financeiras nos Estados Unidos e também na Europa, o que provoca um forte aumento de aversão ao risco. As bolsas caem, os spreads de crédito sobem e a moeda americana se fortalece", afirma o economista Homero Guizzo, da Terra Investimentos.
A resistência do real aos choques externos vai depender de como o Banco Central brasileiro vai se portar, avalia Guizzo. Uma elevação superior a 0,50 ponto porcentual da taxa Selic ou até mesmo um discurso mais duro, garantindo o prolongamento do aperto monetário, podem amenizar as pressões sobre a moeda brasileira. "A variável do diferencial de juros já não traz uma apreciação da taxa de câmbio, mas pode ajudar a segurar o dólar. Esse patamar de R$ 5,10 embute alguns exageros. É preciso ver qual será o tom do Fed e do Copom na quarta-feira", diz Guizzo.
Por ora, é majoritária a expectativa de que o Fed vai elevar a taxa básica americana – hoje entre 0,75% e 1% – em 50 pontos-base na quarta-feira. Crescem as apostas, contudo, de que o BC americano possa acelerar no mês que vem. A plataforma de monitoramento do CME Group mostra que as chances de uma alta de 75 pontos-base nos juros já em junho saltaram de 3,1% há uma semana para mais de 30%.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que a alta do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em maio, com núcleo também pressionado, reforça a leitura de que "a inflação americana ainda não fez pico" e impõe maior pressão sobre a estratégia de ajuste monetário conduzida pelo Fed.
"Esperamos que o Fed suba os juros em 50 pontos-base, porém adote um discurso mais duro em relação ao patamar de juros necessário para a convergência da inflação à meta", afirma Damico, em relatório, que, além do movimento global de fortalecimento do dólar, vê o real abalado pelo aumento do risco fiscal doméstico com as propostas de redução dos preços dos combustíveis, vistas como "eleitoreiras" pelo o mercado.
Damico projeta duas altas seguidas da taxa Selic (em junho e agosto) em 50 ponto porcentual, para 13,75% ao ano, dada a necessidade de ancorar as expectativas e garantir o processo de desinflação. Apesar do grande diferencial de juros e dos ganhos dos termos de troca na balança comercial, Damico acredita que ainda haverá muita volatilidade na taxa de câmbio, em meio à tramitação das medidas de redução dos preços dos combustíveis no Congresso.