Após uma manhã marcada por muita oscilação, o dólar se firmou em terreno positivo ao longo da tarde desta terça-feira, 14, e emendou o sétimo pregão consecutivo de alta, período em que acumulou valorização de 7,44%, saltando da linha de R$ 4,77 para o patamar de R$ 5,13. A escalada do dólar por aqui se deu, uma vez mais, em linha com fortalecimento da moeda americana no exterior, em meio à expectativa pela decisão de política monetária do Federal Reserve nesta quarta-feira (15). A leitura da inflação ao produtor (PPI) nos EUA em maio em linha com o esperado não impediu o mercado de juros americano de embutir mais de 90% de chances de o BC americano anunciar amanhã uma alta da taxa básica em 75 pontos-base.
Por aqui, cresce a perspectiva de que o Banco Central, que deve anunciar nova elevação da taxa Selic amanhã, tenha que prolongar o aperto monetário dada a piora do cenário externo e o aumento da percepção de risco fiscal. O pacote do governo para conter os preços dos combustíveis anda célere no Congresso. Ontem à noite, o Senado aprovou o projeto de lei que fixa teto de 17% para o ICMS sobre energia e combustíveis. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que as alterações promovidas pelo Senado podem ser votadas ainda hoje no plenário da Casa.
O dólar até abriu em queda e sustentou leve baixa nas primeiras horas do negócio com recuo pontual das taxas dos Treasuries e do índice DXY (que mede o desempenho da moeda americana frente a seis pares fortes), na esteira da divulgação da inflação ao produtor (PPI) nos EUA. O índice cheio subiu 0,8% em maio (em linha com o esperado), enquanto o núcleo – que exclui combustíveis e energia – avançou 0,5%, ligeiramente abaixo das expectativa (0,6%).
A maré começou a virar por aqui assim que as taxas dos Treasuries e o índice DXY mudaram de direção lá fora. Após um período de oscilação e trocas de sinal, o dólar se firmou em alta no mercado doméstico e chegou a tocar a casa de R$ 5,15, ao registrar máxima a R$ 5,1518 (+0,72%). No fim do dia, a divisa avançava 0,38%, cotada a R$ 5,1343. Com isso, a moda passou a acumular valorização de 2,92% na semana e de 8,03% em junho. No ano, as perdas, que já foram de dois dígitos, agora são de 7,92%.
"A inflação é uma questão global. O CPI de maio (índice de inflação ao consumidor) veio muito acima do esperado, o que pressiona o Fed a subir mais os juros e fortalece o dólar. Aqui, o risco fiscal voltou a ganhar força com o pacote de combustíveis. O ambiente não é favorável para a moeda brasileira", diz o head de câmbio da SVN, Renan Mazzo.
Ontem, casas como Barclays e JP Morgan passaram a prever alta da taxa básica americana em 75 pontos-base pelo Fed amanhã, justamente por conta da leitura do CPI em maio. O Wells Fargo se junto ao time hoje, alertando que o CPI ainda não atingiu seu pico. Segundo a instituição, se o Fed optar por um aumento de 50 pontos-base amanhã, deverá sinalizar aperto monetário "mais agressivo adiante por meio da coletiva de imprensa do presidente Jerome Powell" ou por meio de um aumento "significativo" nas projeções indicadas pelo gráfico de pontos, avalia o banco.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o Fed terá que elevar a taxa básica – hoje entre 0,75% e 1% – para além de 3% até o fim do ano e mantê-la acima do nível neutro por alguns meses para garantir a convergência da inflação à meta até 2024. Em resposta, as taxas dos Treasuries curtos podem subir de forma mais rápida que a dos longos, com o mercado antecipando o risco de uma recessão em algum trimestre de 2023.
"O mercado precifica a necessidade de um choque monetário amanhã na decisão do Federal Reserve. Caso seja confirmada uma postura mais agressiva, teremos menos fluxo de capitais para emergentes no curto prazo e, portanto, valorização do dólar antes essas moedas", afirma Velho, ressaltando que o fluxo de recursos externos para a bolsa brasileira, que havia ensaiado uma recuperação no fim de maio e início de junho, está "minguando".
Por aqui, a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, vê perspectiva de alta da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual amanhã, para 13,25% ao ano, e sinalização de continuidade do ciclo de aperto monetário. Ela chama a atenção para a rodada de alta recente petróleo, que amplia a defasagem dos preços dos combustíveis no mercado interno. "Isso aumenta a expectativa de reajuste de preços, o que pode cobrir aos efeitos da aprovação do projeto que fixou o teto do ICMS. A combinação de inflação e fiscal pode piorar, o que leva a taxa de câmbio mais para cima", afirma.