O Ibovespa, que chegou pela manhã aos 102.237,09 pontos na máxima do dia, não conseguiu sustentar a recuperação e, acompanhando a piora em Nova York ao longo da tarde, fechou em baixa de 0,17%, aos 100.591,41 pontos, após avanços de 2,12% e de 0,60% nas duas sessões anteriores. Nesta terça, saiu de abertura aos 100.765,65 pontos e, na mínima, chegou a perder a linha de 100 mil, aos 99.956,21. Moderado, mas superior ao de segunda-feira, o giro financeiro foi a R$ 24,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa segue no positivo (+1,94%), ainda cedendo 9,66% no mês e 4,04% no ano.
Nesta terça-feira, o desempenho positivo de Petrobras (ON +1,46%, PN +1,25%) e Vale (ON +1,79%) contribuiu para moderar as perdas da referência da B3, em sessão negativa para os grandes bancos à exceção de BB ON (+0,36%), com destaque para Itaú PN (-1,10%) e Bradesco PN (-1,43%). Na ponta do Ibovespa, Pão de Açúcar (+2,86%), BB Seguridade (+2,13%) e Vale (+1,79%). Do lado perdedor, destaque para Hapvida (-5,78%), Via (-5,45%), Positivo (-5,38%) e CVC (-5,06%).
Além da fraca leitura sobre o índice de confiança do consumidor nos Estados Unidos, do Conference Board, a 98,7 em junho, ante expectativa a 100,0 para o mês, falas de autoridades do Federal Reserve seguiram no radar dos investidores nesta terça-feira – aqui, as preocupações em torno da situação fiscal em meio à discussão sobre alargamento de benefícios e transferências sociais, o que tem se refletido não apenas na Bolsa, mas especialmente nos DIs e no câmbio.
"Do ponto de vista dos fundamentos, seria até um momento de comprar o quanto se conseguisse, com os indicadores técnicos mostrando também que se está chegando a uma região de sobrevenda, especialmente se olharmos de forma setorial para a Bolsa. Mas há muita incerteza, ruído, e isso atrapalha bastante, com o governo entrando em uma agenda mais populista", diz Edmar de Oliveira, operador da mesa de renda variável da One Investimentos, acrescentando que, além da B3, os mercados americanos têm mostrado também desempenho mais fraco, em termos de fluxo.
"O cenário de desaceleração da economia ainda é majoritário, em relação ao de recessão (nos Estados Unidos). E a reabertura da China, caso se firme, tende a ser positiva para as commodities, a que a Bolsa aqui tem exposição", observa Oliveira, que vê espaço para o Ibovespa retomar os 110 ou mesmo os 112 mil pontos caso a melhor combinação de cenários para EUA e China se materialize e, do lado oposto, para voltar aos 92 ou 90 mil pontos caso o pior aconteça.
Por enquanto, a tendência é de que o Ibovespa se mantenha de lado, na faixa de 98 a 100 mil pontos, até que se tenha clareza sobre o efeito da elevação de juros na economia americana e também sobre o fôlego e o grau de normalização da atividade chinesa, com relação à covid-19.
Nos Estados Unidos, o presidente da distrital do Federal Reserve em Nova York, John Williams, afirmou nesta terça que considera "razoável" a projeção de que os juros básicos terão de chegar a um nível entre 3,5% e 4% para controlar a escalada inflacionária. Em entrevista à <i>CNBC</i>, ele ressaltou que a taxa de juros real neutra está mais alta do que o normal por causa da inflação elevada. Dessa forma, os juros de referência precisarão avançar a um patamar restritivo até o próximo ano, na visão de Williams.
Por sua vez, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, atualmente sem direito a voto no comitê de política monetária (Fomc), disse, em evento, que projeta crescimento menor na economia dos Estados Unidos, mas não uma recessão. E James Bullard, do Fed de St. Louis, em texto publicado no site da distrital, apontou que as altas de juros previstas para as próximas reuniões, nas projeções do Fed, são "um passo deliberado para ajudar" os dirigentes a "mover a política mais rapidamente, conforme necessário para levar a inflação de volta à meta de 2%". Bullard tem direito a voto este ano no Fomc.
"O mercado ficou pesado para a bolsa brasileira após o dia ter começado bem lá fora, da Ásia para a Europa. Aqui, o que segurou um pouco, ante a piora vista à tarde também em Nova York, foi o desempenho positivo dos setores de energia e commodities. Nos Estados Unidos, o índice de confiança dos consumidores veio abaixo das expectativas, o que afetou os mercados de Nova York (desde o fim da manhã), frustrando percepção para a economia americana em meio à elevação de juros. Com a piora, o dólar subiu", aponta Ariane Benedito, economista da CM Capital.
"Os dados sobre a confiança do consumidor americano, do Conference Board, vieram hoje muito ruins, após leitura também negativa de outro índice de sentimento, o da Universidade de Michigan, na sexta-feira. Os números de junho sobre a economia dos Estados Unidos têm vindo bem fracos – por enquanto, temos apenas os soft data do mês, como as sondagens e os índices de confiança", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
"Os hard data de abril e maio até que não foram ruins, mas o conjunto de dados já disponíveis para junho – o que inclui as prévias dos PMIs e dados regionais das distritais do Fed, como os de Richmond, Dallas, Filadélfia e Nova York – tem estado no pior nível do ano, em indicação clara da desaceleração americana. Junho pode se confirmar como o mês em que atividade está começando a parar, e isso vai ter que ser levado em conta pelo Fed no atual ciclo de aperto monetário", acrescenta o economista.