Estadão

Não haveria Elvis sem a música e a cultura negras, afirma ator Austin Butler

Nos quase 70 anos desde que despontou para o estrelato, Elvis Presley nunca perdeu seu apelo. Seus grandes hits continuam ecoando por aí, em comerciais e trilhas sonoras de filmes. Nesse período, houve discussões também sobre sua relação complexa com a música negra – o cantor regravou várias faixas gravadas antes e compostas por artistas negros, que nunca tiveram a chance de alcançar o mesmo sucesso. Elvis, o filme, não deixa isso para trás. "Não haveria Elvis Presley sem a música e a cultura negras", disse o ator Austin Butler, que interpreta o cantor, em entrevista com a participação do <b>Estadão</b>, em Cannes, onde o filme foi exibido fora de competição.

Butler, que tem 30 anos de idade, confessou, que essa foi uma revelação que fazer o filme trouxe. "Eu sabia que ele era de Tupelo, Mississippi, mas não que tinha crescido em uma das poucas casas destinadas a famílias brancas em uma comunidade negra", contou.

Elvis Presley nasceu em 8 de janeiro de 1935 na pequena cidade dos Estados Unidos. Era uma época em que as leis de segregação racial separavam brancos e negros. Mas, por viver em um bairro predominantemente negro, o menino tinha amigos negros e observava os cultos das igrejas negras. "Fui fazer pesquisa em Tupelo e Memphis e ouvi da boca de Sam Bell como era a infância dele e Elvis no sul", disse Luhrmann sobre o amigo de infância do artista. O cineasta também contou com a consultoria do historiador Nelson George, especialista em música afro-americana. "Também descobri que Elvis cantava gospel pela manhã. Acho que era seu refúgio, seu lugar de segurança", disse Luhrmann.

Quando Elvis tinha 13 anos, a família mudou-se para Memphis, no Tennessee. Ali, sua diversão era frequentar a rua Beale, onde ficavam os clubes de blues e lojas que moldaram seu jeito de se vestir, menos comportado do que o dos artistas brancos de então. No início dos anos 1950, Sam Phillips, da Sun Records, queria levar a música negra para o público branco. Elvis Presley foi a pessoa perfeita para fazer essa ponte, já que para os artistas negros isso era impossível.

<b>Blues</b>

Elvis misturou o country e o gospel branco com o blues, o gospel negro e o rock. O filme mostra como a música e a cultura negras influenciaram seu gosto musical e até seu jeito de dançar. Aparecem no longa artistas negros como Big Mama Thornton (Shonka Dukureh), que cantou a versão original de Hound Dog, Little Richard (Alton Mason), Sister Rosetta Tharpe (Yola), que usou a guitarra elétrica de maneira revolucionária, Arthur Crudup (Gary Clark Jr.), que gravou That s All Right, e B.B. King (Kelvin Harrison Jr.), que foi amigo de Elvis.

Em um diálogo, Elvis contou que quase quiseram prendê-lo por dançar como dançava. E King responde: "Bem, eu poderia ser preso apenas por andar pela rua". O filme também tenta mostrar que Elvis recusava o rótulo de rei do rock , dizendo que na verdade, ele seria de Fats Domino. Há controvérsias, mas, hoje, poucos duvidam que os reis do rock foram todos negros, como Chuck Berry e Little Richard.

Elvis certamente se beneficiou de ser branco em um momento em que os artistas negros não conseguiam ter o mesmo espaço. Big Mama Thornton reclamou a vida toda, com razão, de não ter feito muito dinheiro com Hound Dog. Ao mesmo tempo, ele abriu caminhos para que a música desses artistas fosse ouvida, algo que Little Richard reconhecia. Indiscutível, porém, é a paixão genuína de Elvis Presley pela música e cultura negras.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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