Depois de dois pregões seguidos de alta firme, em que acumulou valorização de 3,25%, o dólar encerrou a sessão desta quarta-feira, 13, em leve baixa, no patamar de R$ 5,40. O refresco para o real veio na esteira da perda de fôlego da moeda americana lá fora, a despeito de o índice de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em junho ter vindo acima do esperado, ensejando até apostas de que o Federal Reserve possa acelerar o passo e subir a taxa básica em 100 pontos-base.
Operadores e analistas atribuem a escorregada do dólar no exterior, sobretudo antes divisas emergentes, a ajustes de posições e realização de lucros. O mercado já teria embutido nos últimos dias a perspectiva de aceleração inflacionária e agora estaria apenas aparando excessos. Além disso, o dia mais ameno para commodities, após o tombo recente, teria favorecido divisas emergentes. Por aqui, houve relatos de fluxo positivo, com exportadores aproveitando a escalada recente da moeda para internalizar recursos.
O CPI foi de 1,3% em junho, acima da mediana de Projeções Broadcast (1,1%). O núcleo, que exclui preços voláteis como energia e alimentos, subiu 0,7%, além das expectativas (0,5%). Na comparação anual, o índice saltou para 9,1%, também acima do esperado, e atingiu o maior nível desde novembro de 2021. O núcleo registrou avanço de 5,9%, superando previsão de alta de 5,7%.
Logo após a divulgação do CPI, pela manhã, o dólar chegou a ensaiar nova alta e ultrapassou a barreira de R$ 5,45, correndo até a máxima de R$ 5,4663 (0,50%). Mas a febre compradora logo amainou e a moeda voltou a recuar, tocando mínima a R$ 5,3635 no início da tarde. Com uma diminuição das perdas na última hora do pregão, acompanhando o comportamento da moeda americana no exterior, o dólar à vista fechou a R$ 5,4058, em baixa de 0,61%. A divisa ainda acumula ganhos de 2,62% na semana e de 3,27% no mês.
"A percepção é que o mercado já havia se antecipado a um número ruim do CPI e hoje está fazendo um ajuste para baixo no dólar. Está realizando no fato. É simples volatilidade", afirma e economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte.
Referência do comportamento do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY correu entre mínima aos 107,477 pontos e máxima, logo após a divulgação do CPI, aos 108,583 pontos. No fim do dia, rodava no limiar dos 108,000 pontos. Pela manhã, o euro chegou a ser negociado pontualmente abaixo da paridade com o dólar.
À tarde, o presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin, disse que o CPI de junho pede uma postura mais forte contra a inflação e alertou que vê riscos de recessão nos EUA. O presidente do Fed de Atlanta, Rafael Bostic, afirmou que a inflação mais elevada pode fazer os dirigentes do BC americano considerarem uma alta de 100 pontos-base em sua reunião de política monetária neste mês. Monitoramento do CME Group mostra que o mercado embute mais de 70% de chance de que o Fed eleve a taxa em 100 pontos-base.
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o CPI, além de ter vindo acima do esperado, mostra que a economia americana enfrenta um processo inflacionário mais amplo e disseminado. Dada à liquidação de ativos de risco e à escalada do dólar nos últimos dias, Lima observa que o mercado aparentemente já incorporou a perspectiva de alta mais forte dos juros pelo Fed e consequente desaceleração da economia – o que ajudaria a explicar o alívio, ainda que modesto, do dólar hoje.
"O dólar se fortaleceu muito nos últimos dias com essa percepção de que a política monetária do EUA será mais forte que a de outros blocos", afirma Lima, acrescentando que as commodities caíram diante da possibilidade de recessão e os problemas na economia chinesa.
O Livro Bege, que serve de base para as decisões do Fed, revelou que vários dos 12 distritos em que o BC americano está presente relataram desaceleração da demanda desde meados de maio. Empresários em cinco distritos mostraram preocupações com "risco crescente" de que a economia americana entre em recessão. Apesar disso, houve também relatos de pressões inflacionárias.
Além do fortalecimento do dólar no exterior e da queda das commodities, o real teria sofrido nos últimos tempos com a piora da percepção de risco fiscal em razão da PEC dos Benefícios, aprovada ontem em primeiro turno na Câmara e em processo final de votação na Casa hoje.
Para o economista-chefe da Western, em uma perspectiva de longo prazo, o real está em nível muito depreciado tendo em vista os fundamentos e o nível da taxa de juros. No curto prazo, contudo, há fatores que podem levar a nova rodada de depreciação, como queda adicional das commodities e eventuais derrapadas no campo fiscal e político. "A moeda já está muito fraca para se apostar em novas depreciações. Precisamos fazer muita coisa errada. Não que a gente não possa fazer, mas nesse nível o dólar já está bem estressado", afirma.