As perspectivas mais negativas de que uma recuperação econômica nas principais economias, como Estados Unidos, ainda não é uma realidade próxima fizeram com que os investidores voltassem a procurar o dólar como medida de segurança nesta terça-feira, 16. No Brasil, essa incerteza no contexto da pandemia do coronavírus segue acrescida de dúvidas sobre o real compromisso com o lado fiscal e, sobretudo, as reformas estruturais, e acaba por levar o real a se depreciar mais do que as moedas de pares emergentes. Assim, a divisa americana teve mais uma sessão de alta, encerrando o dia cotada a R$ 5,2340 (+1,79%).
Otávio Aidar, estrategista-chefe e gestor de moedas da Infinity Asset, ressalta que a possibilidade de maior liquidez ofertada pelas autoridades monetárias das principais economias estimula posições de maior risco. No entanto, na ponta contrária, o anúncio só ocorre porque significa que a economia ainda vai ficar ainda ruim. Nesse sentido, vem o receio de tomar risco. "A situação global é mais difícil, mas, nesse contexto, a liquidez será abundante. Porém, quando ele (Jerome Powell, presidente do Fed) fala também que a situação está ruim, o pessoal se apega ao lado negativo", diz, ressaltando que, não bastasse o clima externo, nossas questões internas, agora sobre fiscal e reformas, também pesam contra o real.
Hoje, em discurso no Senado americano, Powell reafirmou que há incertezas significativas sobre o tempo e a força da recuperação econômica nos Estados Unidos, após os impactos da pandemia de covid-19.
Aidar ressalta ainda que a volatilidade vista no câmbio não é um fator positivo para a economia real, pelo contrário, fica difícil para exportadores e importadores fecharem seus contratos. Na sessão de hoje, a cotação da moeda dos Estados Unidos variou de R$ 5,0495, na mínima, a R$ 5,2340, na máxima.
"O ambiente está muito tumultuado e nós trazemos dúvidas em relação ao fiscal que acaba piorando", diz o estrategista que não crê em ruptura do fiscal, mas nota que todo dia há alguma notícia ruim. "Por mais que neste momento seja difícil falar de reformas, a visão era positiva, e aí vem as negações, e volta a incerteza para a economia brasileira."
Sobre o efeito do corte da taxa básica de juros na reunião do Copom de amanhã sobre a cotação cambial, Alexandre Almeida, economista da CM Capital, diz que grande parte dessa queda já foi incorporada, entretanto, os investidores seguem atentos à possibilidade de um comunicado ao fim do encontro mais dovish e direto (como no último), podendo indicar que o colegiado deixa a porta aberta para mais cortes à frente.