Após quatro pregões consecutivos de baixa, em que acumulou desvalorização de 6,10%, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 29, em leve alta, na casa de R$ 5,17. Segundo operadores, o pregão foi marcado por realização de lucros e ajustes técnicos, em meio à formação da última taxa Ptax de julho – que serve para liquidação de contratos derivativos – e à rolagem de posições no mercado futuro de dólar.
Pela manhã, o dólar chegou até a operar pontualmente em queda, com mínima a R$ 5,1460. No restante do dia, apesar do apetite ao risco e do sinal predominante de baixa da moeda americana lá fora, a divisa trabalhou em alta e chegou a romper o patamar de R$ 5,20 na máxima, ao tocar R$ 5,2130 (+0,96%). No fim da sessão, a moeda avançava 0,21%, cotada a R$ 5,1743.
O dólar encerra a semana com baixa de 5,90%. Trata-se da maior queda semanal desde a primeira semana de novembro de 2020, o que dá uma ideia da magnitude do movimento. Graças ao tombo nos últimos dias, a moeda termina julho com sinal negativo (-1,16%), após ter subido 10,15% em junho. No ano, a divisa apresenta perdas de 7,20%.
"O real vinha perdendo muito contra o dólar e uma reação era esperada. O que impulsionou muito o real e as moedas emergentes em geral nesta semana foi a alta de preços das commodities com a leitura de estímulos econômicos na China", afirma o chefe de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto, acrescentando que o fato de o Federal Reserve não ter acelerado o ritmo de alta de juros para 100 pontos-base, como especulado por parte do mercado, tirou fôlego da moeda americana.
Na quarta-feira (27), o Fed anunciou elevação da taxa básica de juros em 75 pontos-base, para a faixa entre 2,25% e 2,50% ao ano. A novidade foi a declaração do presidente do BC americano, Jerome Powell, de que a taxa já está perto do nível neutro e que seria apropriado moderar o ritmo de alta – o que deu lugar a um rali dos ativos de risco. A perspectiva de um Fed mais comedido foi reforçada pela primeira leitura do PIB americano no segundo trimestre, que mostrou retração de 0,9% (taxa anualizada), enquanto a mediana de Projeções Broadcast era de avanço de 0,4%.
Dados de inflação e consumo nos EUA em junho divulgados hoje não abalaram a aposta majoritária de que o Fed vai elevar os juros em 50 pontos-base em setembro. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu 1% em junho ante maio. O núcleo do PCE, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, avançou 0,6%, um pouco acima das expectativas (0,5%). Na comparação anual, o PCE subiu 6,8% em junho, após a alta de 6,3% de maio. Já o núcleo atingiu 4,8%, ante 4,7% em maio.
"O quadro de recessão técnica nos EUA traz a perspectiva de aperto menos agressivo do Fed. De outro lado, o PCE divulgado hoje mostra que a inflação continua muito forte. Ainda é preciso ver com serão as próximas leituras de inflação", diz Netto, da Acqua-Vero.
Em artigo, o diretor do Fed Cristopher Waller diz que é plausível um "pouso suave" do mercado de trabalho americano em meio aos esforços para controle da inflação. Presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic disse que o BC tem que continuar a subir os juros, mas ressaltou, ecoando fala de Powell, que o ritmo de aperto monetário nos próximos meses dependerá dos indicadores econômicos. Modelo do Fed de Atlanta prevê crescimento anualizado de 2,1% do PIB americano no terceiro trimestre.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, com predominância do euro e do iene – operou ao longo da tarde em queda firme, abaixo da linha dos 106,000 pontos. O dólar caiu em relação à maior parte das divisas emergentes e de exportadores de commodities, embora tenha subido frente a pares do real, como o peso mexicano e o rand sul-africano.
Entusiasta da moeda brasileira, o economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, afirmou, no Twitter, que mantém seu preço justo para a taxa de câmbio em R$ 4,50. Segundo Brooks, é "profundamente reconfortante" o fato de o real, em apenas dois dias de notícias favoráveis aos emergentes, incluindo um Fed menos agressivo, já liderar a recuperação entre moedas do grupo. "O real permanece muito subvalorizado", escreve.