A trinca formada por alta das commodities, apetite do capital estrangeiro por ativos locais e enfraquecimento global da moeda norte-americana levou a mais um dia de forte apreciação do real. Em baixa desde a abertura dos negócios, o dólar emendou nesta segunda-feira, 8, o quarto pregão seguido de queda no mercado doméstico e chegou a flertar com o rompimento do piso de R$ 5,10, ao tocar mínima a R$ 5,1037 (-1,22%) ainda pela manhã.
Após trabalhar ao longo da tarde entre R$ 5,11 e R$ 5,12, a divisa encerrou o dia em baixa de 1,04%, cotada a R$ 5,1129 – menor valor de fechamento desde 15 de junho.
Com a agenda esvaziada de indicadores, o mercado ainda reverbera o resultado acima do esperado do relatório de emprego (payroll) norte-americano em julho, que mitigou temores de recessão nos EUA e ensejou recuperação dos preços de commodities. Depois de fechar com alta de 2,63% na sexta-feira, o minério de ferro subiu mais 2,78% nesta segunda-feira em Qingdao, na China.
Investidores receberam bem dados da balança comercial chinesa em julho, com exportações acima do previsto. Os contratos futuros de petróleo subiram no mercado internacional, com o tipo Brent para setembro, referência para a Petrobras, em alta de 1,82%, a US$ 96,65 o barril.
"O payroll pode abrir caminho para o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) subir mais os juros, mas ao mesmo tempo mostra que a crise não está às portas dos EUA e gera estímulo para o mercado de commodities. Isso beneficia nossa Bolsa e o real", diz o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, que vê uma taxa de câmbio ao redor de R$ 5,20 "mais perto do equilíbrio", dado o início da corrida eleitoral e as dúvidas que pairam sobre as contas públicas em 2023. "Essa queda para perto de R$ 5,10 é um pouco exagerada pelos riscos que temos".
Além do ambiente mais favorável a preços de commodities, o real é favorecido pelo apetite do estrangeiro por ações e renda fixa domésticas, em meio à percepção de que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode ter encerado o ciclo de aperto monetário, ao elevar na quarta-feira, 3, a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,75% ao ano. Na terça, sai o IPCA de julho, com grande possibilidade de apresentar de deflação, e a ata do Copom, que pode reforçar a perspectiva de que não haverá novas elevações da Selic.
"Parece que teve maior apetite ao risco que acabou trazendo fluxo para cá. O diferencial de juros está sendo favorável para o Brasil, o que contribui para a queda do dólar por aqui", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest. "Além disso, a gente tem visto também alta nos preços das commodities, o que acaba favorecendo países exportadores de matérias-primas, que é o caso do Brasil."
A Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério da Economia, informou nesta segunda à tarde que a balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 1,236 bilhão na primeira semana de agosto de 2022. No acumulado do ano até agosto, o saldo é positivo em US$ 41,125 bilhões.
No exterior, o índice DXY – referência do comportamento do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – operou em baixa moderada ao longo do dia, na casa dos 106 mil pontos. A moeda americana caiu em bloco frente a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com raras exceções como a lira turca e o rublo russo.
Após o payroll de julho, o mercado aguarda a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) no mês passado, na quarta-feira, para calibrar as apostas em torno do ritmo e do tamanho do ciclo de alta da taxa básica americana pelo Federal Reserve. Monitoramento do CME Group mostra que as chances de elevação dos Fed Funds em 75 pontos base em setembro são majoritárias.
Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, os dados do mercado de trabalho deixam claro que "a economia americana está em expansão, ainda que em ritmo menor do que há alguns meses". Ele ressalta, contudo, que seus modelos indicam que a probabilidade dos EUA entrarem em recessão nos próximos 6 a 12 meses está em torno de 70%.
Por ora, Oliveira mantém a expectativa de mais três altas de 50 pontos-base dos juros americanos neste ano. "Porém, reconhecemos que o Fed poderá optar por uma política monetária mais apertada, mantendo o ritmo de 75 pontos por pelo menos uma reunião", afirma o economista, em relatório.