Na sua maior crise, Cruzeiro elege presidente nesta quinta para mandato-tampão

O cenário da maior crise da história do Cruzeiro ganhou novos componentes nos últimos dias. Rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro e com uma dívida expressiva, o clube ainda vai iniciar a disputa da segunda divisão com pontuação negativa por causa de punição imposta pela Fifa. E será nesse cenário de caos que o Conselho Deliberativo do clube vai eleger o novo presidente da equipe nesta quinta-feira, para um mandato-tampão, apenas até o fim de 2020.

O pleito tem dois candidatos: Sérgio Santos Rodrigues, visto como o favorito para vencer a disputa, e Ronaldo Granata. Mas não será o único nesta quinta, pois o clube também elegerá o novo presidente do Conselho Deliberativo. Nesse caso, são quatro concorrentes: Giovanni Marcos Baroni, Luiz Carlos Rodrigues Filho, Paulo Roberto Sifuentes Costa e Paulo César Pedrosa.

Quem for o escolhido para comandar o Cruzeiro, assumirá um clube em grave crise financeira, política e técnica, iniciada no ano passado e que eclodiu com graves denúncias contra a gestão do então presidente Wagner Pires de Sá, que tinha Itair Machado como vice de futebol.

Até então com bons resultados esportivos, o que incluiu a conquista do título da Copa do Brasil em 2017 e 2018, o clube entrou em um viés de baixa dentro de campo no ano passado e que culminou na queda à Série B. Fora dele, os gastos excessivos provocaram o acúmulo de dívidas, que já foram estimadas em quase R$ 1 bilhão. Pressionado, Wagner renunciou ao seu cargo no fim de 2019, quando ainda tinha um ano de mandato a cumprir.

Será esse período que o presidente eleito ficará à frente do clube, sendo que o cargo vinha sendo ocupado nos últimos meses pelo Núcleo Dirigente Transitório, um grupo de empresários que se uniu em um conselho gestor para tocar o dia-a-dia do clube.

A ideia do grupo, que tem Saulo Fróes como presidente, era permanecer no Cruzeiro até o fim de 2020, com a eleição desta quarta sendo meramente formal, para apontar um dos seus componentes como presidente. Mas em um claro indicativo da divisão e disputa política, Sérgio Rodrigues decidiu se candidatar. E o Núcleo Dirigente Transitório desistiu de se apresentar para a votação.

Sergio Rodrigues lidera a chapa "Centenário" e tem Lidson Faria Potsch Magalhães e Biagio Teodoro Francesco Peluso como vices. Ele perdeu a eleição de 2017 para Wagner. Antes, atuou como superintendente de futebol no segundo mandato do ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares. O candidato ocupou a função de outubro de 2015 a março de 2017.

Advogado, tem 37 anos e exerceu a função para o ex-presidente Zezé Perrella, um dos seus aliados. O dirigente também tem o apoio público de Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH e considerado um "mecenas", tendo feito parte do Núcleo Dirigente Transitório.

Já Granata foi segundo vice-presidente na gestão de Wagner. Empresário, ele foi o último dirigente a renunciar ao cargo, abrindo caminho para a entrada do grupo de gestores à frente do clube. Ele foi candidato à deputado federal nas eleições de 2018, mas não teve êxito na disputa.

Quem vencer a eleição, poderá buscar um novo mandato ao fim de 2020, agora completo, de três anos, de 2021 a 2023. Mas independentemente de qual delas vença a eleição desta quinta-feira, o cenário que precisará encarar vai ser de "terra arrasada".

Afinal, além do rebaixamento à Série B, o clube perdeu recentemente seis pontos na divisão de acesso por não ter pago dívida com o Al-Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, pela contratação do volante Denilson. E casos semelhantes vão estourar nos próximos dias.

A crise do coronavírus fez as receitas sumirem, com a paralisação das competições e a suspensão de acordo de patrocínio. O balanço de 2019 apontou déficit de R$ 394 milhões, levando a dívida total do clube para R$ 803 milhões.

Até por isso, embora a posse do vencedor esteja agendada para o dia 31, a ideia dos membros do Núcleo Dirigente Transitório é de que o candidato eleito comece a trabalhar já na sexta-feira, passando a compor o grupo e assumindo as decisões.

O clima político no clube não está melhor. O clube chegou a definir a expulsão de 30 conselheiros por serem remunerados na gestão anterior, mas 29 deles, incluindo Gustavo Perrella, filho de Zezé, e o ex-diretor geral Sérgio Nonato, conseguiram liminar na Justiça para participar da eleição.

Ainda em um reflexo dos problemas da gestão passada, uma investigação realizada pela Kroll, que foi encaminhada ao Ministério Público, constatou gastos suspeitos da ordem de quase R$ 40 milhões no período entre 1º de dezembro de 2017 e 31 de dezembro de 2019, com Wagner à frente do clube.

Além de toda essa instabilidade, a eleição no Cruzeiro será disputada de modo bem diferente do usual, pois ocorre durante o surto de coronavírus. Assim, só poderão permanecer no local de votação, das 9h às 16h, os membros da Comissão Eleitoral, fiscais de cada chapa e profissionais que atuarão no pleito.

Os eleitores foram divididos em ordem alfabética e com horários definidos para cada grupo de votação. Todos terão a temperatura aferida e as mãos higienizadas na entrada, com o uso de máscara sendo obrigatório. A imprensa não terá acesso ao ginásio.

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