Os juros futuros terminaram a quarta-feira em alta, mais firme nos contratos de médio e longo prazos, influenciados pelo exterior negativo, especialmente o avanço nos preços do petróleo e nos retornos dos Treasuries. As taxas curtas subiram com menos força. O IPCA-15 de agosto, mesmo em deflação histórica, veio pior que o esperado e com preços de serviços desinflando em ritmo lento, o que puxou um ajuste nas apostas de antecipação do início do ciclo de cortes da Selic em 2023.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou estável em 13,72% e a do DI para janeiro de 2024 encerrou em 13,11%, de 13,07% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,88% para 11,97% e a do DI para janeiro de 2027, de 11,60% para 11,68%.
Além do Simpósio de Jackson Hole, que começa na quinta-feira nos EUA, a divulgação do IPCA-15 era um dos destaques da agenda da semana para o mercado de juros, mas o que acabou prevalecendo mesmo nesta quarta-feira foi o ambiente externo.
As taxas longas voltaram a subir, acompanhando o movimento dos Treasuries, e do petróleo e a expectativa pelo seminário do Federal Reserve como pano de fundo. A perspectiva para custos de energia como um todo vem piorando não somente com o petróleo mas também pela escalada nos preços de gás na Europa, acentuando o risco de pressões inflacionárias.
A participação do presidente da instituição, Jerome Powell, no Simpósio está prevista para sexta-feira. Apesar dos dados mais fracos de atividade, o que tem prevalecido no discurso de boa parte dos dirigentes é o alerta sobre a inflação.
Nesse cenário, a taxa da T-Note de dez anos voltava a rodar nos 3,10% no fim da tarde, enquanto a da T-Note de dois anos se aproximava de 3,40%, de 3,05% e 3,28% na terça no fim do dia.
Internamente, a deflação de 0,73% do IPCA-15 de agosto – piso da série iniciada em novembro de 1991 – foi menor do que apontava a mediana das estimativas, de 0,82%. A surpresa veio principalmente da resistência de Alimentação e Bebidas (+1,12%) em nível elevado (+1,16% em julho). A queda do índice foi puxada pelo recuo dos preços administrados, de 4,28% segundo cálculos do Banco BV, ainda sob impacto da desoneração tributária e redução de preços de combustíveis pela Petrobras.
O gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier, afirma que o mercado se ateve a alguns pontos na abertura do indicador, que ainda mostram ritmo forte de atividade. "Itens ligados à política monetária, como serviços, podem ter sido até mais relevantes para a curva do que o fato de o índice cheio ter vindo pior que a mediana", afirmou.
A inflação de serviços, à qual o Banco Central vem chamando a atenção, teve forte desaceleração (0,84% para 0,28%), mas em boa medida puxada por passagem aérea (-12,22%). Mas serviços subjacentes, por exemplo, arrefeceram bem menos, de 0,91% para 0,78%, ficando acima da mediana das estimativas (0,70%).
Segundo Xavier, a curva segue precificando pouca probabilidade de alta da Selic no Copom de setembro, "mas o mercado corrigiu um pouco das apostas para a queda no primeiro trimestre do ano que vem".