Estadão

Quase 90% dos novos brechós são abertos por empreendedor individual

Ponte entre quem busca produtos mais baratos e quem quer ter renda extra com eles, o comércio de usados cresceu no ambiente de inflação em disparada, abrindo também oportunidades a pessoas que perderam o emprego. A cada dez lojas abertas desde 2021, praticamente nove (88%) são de microempreendedores individuais (MEIs), categoria na qual, muitas vezes, o empreendedorismo é motivado pela necessidade – como é o caso de pessoas que abriram negócios próprios porque não conseguiram voltar para o mercado de trabalho ou precisaram de um complemento de renda.

Para Silmaria Marques, 34 anos, o brechó Cravo com Canela, aberto na garagem do ex-sogro em Itaquera, na zona leste de São Paulo, é uma forma de garantir uma renda extra para a família. Ela divide o seu tempo entre o trabalho fixo de assistente de imigração e o sonho de comercializar roupas de segunda mão. "Eu sempre amei compras em brechó, não só pelo custo, que é muito menor do que dos novos, mas pela exclusividade das peças que você consegue garimpar", diz Silmaria.

<b>DIFERENTES ESTILOS</b>

No brechó em Itaquera, os clientes variam de pessoas que querem gastar pouco com vestuário, jovens ligados à moda sustentável e também outras vendedoras de itens de segunda mão, que têm seus negócios na web. Para garantir novidades toda semana, Silmaria busca peças em bazares beneficentes. "Desde o começo da pandemia, o movimento na loja cresceu cerca de 40%."

O consumo dos itens de segunda mão segue aquecido no mundo, seja pela consciência ambiental, seja pela grana mais curta dos consumidores.

De acordo com os dados de um estudo realizado pela consultoria Boston Consulting Group (BCG), a previsão para o mercado de artigos de moda usados – também alimentado pela maior preocupação da sociedade com os impactos ambientais da produção têxtil – é de crescimento de 15% a 20% até 2030.

A partir de dados coletados com o site Enjoei, o estudo aponta que, entre consumidores de peças usadas, 12% do guarda-roupa é ocupado por itens de segunda mão comprados – ou seja, não entram na conta roupas ganhadas.

É um porcentual muito similar ao de mercados maduros e que, conforme a intenção desses consumidores, pode chegar a 20% até 2025, o que representa um mercado potencial de R$ 24 bilhões. A possibilidade de comprar artigos premium a preços mais baixos é um dos motivos por trás do crescimento do consumo de usados.

<b>GIGANTES DE OLHO</b>

Além dos pequenos negócios como o aberto por Silmaria e o "Vende, Amiga!", de Gabrielle Carvalho (este voltado ao público jovem que gosta de moda e quer consumir itens de luxo, mas com um preço acessível), o mercado de usados já chegou ao radar das grandes corporações de moda.

Recentemente, a Arezzo&Co comprou o brechó virtual Troc com o objetivo de impulsionar sua estratégia de moda circular.

Em março deste ano, o Grupo Jereissati, dono da rede de shoppings Iguatemi, adquiriu uma parcela societária do site Etiqueta Única com um investimento de R$ 27 milhões. Fora do Brasil, marcas de luxo como Gucci, Burberry e Stella McCartney também têm dedicado parte dos seus investimentos no setor de itens "vintage".

<b>PROJEÇÕES</b>

<b>No Brasil</b> – O mercado brechós, sebos e antiquários deve se manter em alta e crescendo nos próximos anos no Brasil, conforme levantamento do Boston Consulting Group (BCG). Só o segmento de moda circular, segundo a projeção do BCG, deve crescer entre 15% e 20% até 2030 no País.

<b>No exterior</b> – Em mercados estrangeiros, onde o consumo de itens de segunda mão já é um hábito de consumo consolidado entre os clientes, a projeção é crescer 20% nos próximos três anos, com estimativa de potencial de mercado de R$ 24 bilhões, conforme dados do BCG.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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