Os juros futuros fecharam a segunda-feira, 29, em alta, definida na última hora de negócios, após percorrerem a sessão, marcada pela liquidez fraca, em marcha lateral. O mercado se equilibrou em meio a um jogo de forças, tendo de um lado a alta do petróleo e dos retornos dos Treasuries e de outro, a queda do dólar. Mas no fim do dia fatores técnicos prevaleceram e jogaram as taxas para cima. Agenda e noticiário domésticos até foram movimentados pela pesquisa Focus, Caged e repercussões do debate entre os presidenciáveis, mas ainda assim não foram capazes influenciar as taxas futuras.
Nos vencimentos de curtíssimo prazo, as taxas fecharam estáveis, com a do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrando em 13,74% (máxima), de 13,73% no ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2024 também encerrou na máxima, de 13,17%, de 13,07% na sexta-feira. A taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,99% para 12,11% e a do DI para janeiro de 2027, de 11,77% para 11,88% (máxima).
Enquanto a Bolsa e o câmbio conseguiram, de alguma forma, ao longo da sessão se desvencilhar da cautela que prevaleceu no exterior, no mercado de juros o investidor mostrou uma postura mais conservadora. O viés de alta prevaleceu desde o início dos negócios, zerado por vezes pela queda importante do dólar, em meio à entrada de fluxo. Nas mínimas do dia, a moeda chegou à casa de R$ 5,01.
"O mercado precisava se alinhar ao movimento visto lá fora desde sexta-feira e tentou fazer isso, ainda que de forma tímida porque parece que há uma perspectiva de fluxo segurando um ajuste mais firme", comentou o operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, André Alírio. No fim da sessão regular, porém, operadores relatam que houve entrada pontual de fluxo tomador, sobretudo no vencimento de janeiro de 2025, o que normalmente acaba potencializando movimentos em dia de liquidez mais baixa.
Lá fora, as apostas em postura mais agressiva tanto do Federal Reserve quanto do Banco Central Europeu (BCE) vêm crescendo desde sexta-feira. A probabilidade de o Fed elevar o juro em 75 pontos-base na reunião de setembro chegava a 70% e, no caso do BCE, já estava perto disso (67% pela manhã) para o encontro de 8 de setembro. Ainda assim, a curva dos Treasuries ganhou inclinação, com a taxa da T-Note de dois anos subindo em ritmo mais lento, no fim da tarde, em torno de 5 pontos-base e a de 10 anos, 10 pontos, ante os níveis de sexta-feira.
Outro fator a limitar a melhora da curva, o petróleo Brent, referência para os preços da Petrobras, continua rodando acima da marca de US$ 100, fechando hoje em alta de quase 4%, a US$ 102 por barril, num sinal de alerta às perspectivas inflacionárias.
O BTG Pactual avalia em relatório que os prefixados estão mais atrativos à alocação de recursos após a sinalização do Banco Central sobre o fim do ciclo de aperto da Selic, mas ainda assim dizem que é necessário ter cautela, dada a falta de clareza sobre manutenção de algum tipo de arcabouço que transmita credibilidade fiscal e com o Fed endurecendo o discurso. "Incertezas sobre a evolução das expectativas de inflação (tanto em 2023 quanto em 2024) mantêm nossa postura cautelosa sobre a classe de ativo. No entanto, ressaltamos que o timing está mais atrativo em relação aos meses anteriores", destacam.
No Boletim Focus desta segunda-feira, a mediana das estimativas para o IPCA de 2023 voltou a cair, de 5,33% para 5,30%, mantendo-se acima do teto da meta (5,00%). Mostrando sinais de desancoragem mais ampla, a mediana para o IPCA de 2024 continuou em 3,41%. Quanto à Selic, não houve mudança nas medianas de 13,75% e 11,00% no fim de 2022 e fim de 2023.